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Quando criança, aprendi a dividir o tempo e a vida em Copas do Mundo – e para a minha geração, a Copa de 1970 tornou-se uma referência mítica, a conquista definitiva da taça Jules Rimet e um exemplo de time perfeito. Foi também a absoluta consagração de Pelé, o jogador cujos lances tinham o dom de se tornar hipóteses do futebol, teoremas que outros obreiros da bola levariam a cabo, como o chute súbito do meio do campo, mundialmente célebre como "o gol que Pelé não fez", ou o poético drible da vaca, tão perfeito na sua engenharia silenciosa que nem precisava de gol. E teve seu estigma: na ditadura, o brasileiro se dividia entre torcer pela seleção e torcer contra, para que o governo não inflasse ainda mais a fantasia do "ninguém segura esse país".

Em 1974, começa a lenta, gradual e segura decadência do nosso futebol – um Zagalo em pânico não consegue entender como que o "carrossel holandês", aquela fascinante pelada organizada, não tomou conhecimento da gente. Em 78, na Argentina, levamos uma seleção militarizada – até o aquecimento à beira do campo era sincronizado em ordem unida. Perdemos a Copa sem perder um jogo – o empate com a Argentina nos enterrou. Inventamos a tal "vitória moral". Como sempre, a culpa era dos outros. Em 82 e 86, era um Brasil beletrista em campo – lindo, maravilhoso, mas desgraçadamente sempre tinha uma pedra no meio do caminho. Em 90, a era Collor se consubstanciou nas quatro linhas – tosca, a seleção mal passa da classificação e se entrega aos argentinos. Um crime.

Em 1994, depois de 24 anos de penitência, finalmente erguemos de novo a taça, e era ele o homem – Parreira. Mas ficou um gostinho amargo, cada jogo um sofrimento medonho e a decisão final por pênaltis; uma coisa meio broxante. O fantasma de 70 – aquela dança de gênios – estava ainda vivo na memória. Em 98, o desastre da França numa comédia de erros. Em 2002, a surpreendente seleção de Luiz Felipe Scolari, contra a lógica e os vaticínios, trouxe o quinto título, merecidíssimo, com um belo time que, sem ser brilhante, levou todas, jogo a jogo.

Aproxima-se o dia de uma nova divisão do tempo na astrologia das Copas. E é ele o homem: Parreira. Dizem que está mudado, mas não acredito. Todos mudam, exceto os técnicos de futebol. Não vamos nos iludir com o balaio de gols na festa dos treinos. Na vida real, todo jogo do Parreira é duro, difícil, suado, sofrido. Ele é o nosso Churchill; sempre que vejo aquela cara amarrada, lembro da frase célebre: Só vos prometo sangue, suor e lágrimas! Não vai ser fácil: ele cumpre o que promete.

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