• Carregando...
 |
| Foto:

Que há muito ladrão no país (usando essa velha e boa palavra para definir os amigos do alheio), sabemos todos. Basta ler jornal e vamos nos inteirando desta fauna, desde o assaltante que rouba a bolsa da velhinha, até o ilustre deputado que povoa a Assem­­bleia de fantasmas e enche a burra de salários mil. E ao lado dessas modalidades clássicas de meter a mão no jarro, vem crescendo o roubo digital, uma mo­­dalidade tecnológica mais moderna.

Dia desses, depois de deletar mais um assaltante na caixa de e-mail, pensei: o que acontece aqui no computador equivale a eu sair na rua e a cada dez passos alguém tentar enfiar a mão no meu bolso para levar dinheiro. E cada tentativa de violência digital tem um perfil diferente. Um psicólogo poderia fazer o quadro dos assaltantes.

Há o larápio tecnológico: "Es­­tamos fazendo o recadastramento de sua conta para sua segurança e o senhor deve clicar aqui, ou terá a conta bloqueada". É uma modalidade profícua: todos os "bancos" me mandam pedidos ameaçadores desse tipo todos os dias. Se você abrir a página e preencher os dados, entram na sua conta e está feito o estrago. Um assalto bem mais tranquilo do que perseguir aposentado na saída do caixa.

O ladrão fofoqueiro provoca: "Afff... o que você estava fazendo nessa festa!? Dê uma olhada nessas fotos!" Se você clicar, já em pânico, pensando na desculpa que vai dar em casa, um monstro entra no seu computador e passa a vigiá-lo 24 horas por dia. Você vira um zumbi mandando informações ao Irmão Metralha. Uma variação comum são vídeos de celebridades: "Veja só esse flagra da Fulana!!!" O ladrão fofoqueiro conta com a nossa irresistível curiosidade.

O pilantra cobrador se faz um zeloso funcionário do financeiro de empresas: "Segue anexo a conta relativa sua compra efetuada. Valor 32.240,00". O português costuma ser esse mesmo. Se você vai ver que diabo de compra é essa, vira um zumbi digital.

O mais original de todos, en­­tretanto, é o simpático Mr. Cliff Maxwell, de quem recebo um gentil convite todas as semanas, escrito em bom inglês. O pobre Mr. Maxwell dispõe de 20 mi­­lhões de dólares, mas, infeliz­­men­­te, não conhece ninguém em meu país que poderia ajudá-lo a investir aqui. Mr. Maxwell pede minha assistência. É uma proposta de pai para filho: ele está pronto a me dar 25% do dinheiro se eu ajudá-lo. E mais: não há links ou arquivos anexados com vírus oculto, nada – apenas um discreto e-mail para eu entrar em contato. Ou seja, nenhum risco digital de primeira instância.

Não fosse eu um sujeito tão mesquinho e desconfiado, teria já respondido ao Mr. Cliff oferecendo meus préstimos. É realmente uma tristeza alguém ter 20 milhões de dólares, pensar generosamente em mim para aconselhá-lo, e nunca receber uma só palavrinha de volta. Essa vida dura vai deixando a gente insensível, mes­­mo quando a Fortuna passa encilhada na porta de casa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]