Em jogo de time grande contra pequeno, se o Brasil não está em campo, torço sempre para o mais fraco. É que sou um remanescente obsoleto da geração anos 70, defensora atávica dos pobres e dos oprimidos. Já o meu filho Felipe, com a inocência pragmática das crianças globalizadas, dos árbitros e dos comentaristas da televisão, torce sempre para o mais forte, e, é claro, sempre leva a melhor. Afinal, como na política, na Copa também vão ficando sempre os mesmos para o fim – aqui estão Alemanha, Inglaterra, Argentina, França, Brasil e mais Portugal e Ucrânia para dar o tempero da diferença. Temos mesmo de amar o futebol – é a única área em que podemos nos comparar, com vantagem, às grandes nações.

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Considerando tudo, futebol mesmo, até agora, só Alemanha, Argentina e Brasil. Sim, o Brasil, mas não pelo jogo contra Gana. Pelo que se comentava, o time africano parecia uma potência, até revelar-se o que foi de fato, sparring para aquele Brasil preguiçoso em que o Parreira insiste. A Itália é uma seleção tosca, que, como a Inglaterra, tem mais na vitrine do que no estoque – jogo que é bom, nada. A Itália conseguiu um bilhete premiado na loteria da arbitragem, com o pênalti vergonhoso soprado no último segundo contra a Austrália. E a Inglaterra, como dizia João Saldanha, sempre foi uma fraude – os inventores do futebol só ganharam a Copa em 1966, na terra deles, com a ajuda generosa da arbitragem. Antes e depois, muita fama, pouco resultado. Seus jogos mais célebres são duas derrotas por um a zero – para o Brasil, em 1970, em que eles de fato jogaram bem, e para um time amador dos Estados Unidos, em 1950, no que seria a maior zebra da história das Copas. Os famosos hooligans de certa forma são a torcida que corresponde ao padrão da equipe. Da Argentina, vou lembrar o que diz dela o escritor José Pablo Feinmann, aliás argentino, no seu belo romance "A sombra de Heidegger" (Ed. Planeta): "E a Argentina é isso – inextricável. Ou seja, emaranhada, equívoca, problemática, turva, insolúvel, enfim."

Agora vem a França. Jogadores para ganhar, temos de sobra – resta saber se temos um time. Eu acho que sim, mais do que a França. E se há algum resto de lógica no mundo, nosso adversário na final será ou Alemanha, ou Argentina. A Argentina, como sabemos, é um nó-cego. Já a Alemanha é previsível – e joga muito. Se nosso adversário de terça, em vez de Gana, fosse a Alemanha, estaríamos agora ouvindo a gritaria furiosa contra Parreira ("Eu não disse?"), desclassificado nas oitavas. Para sorte nossa, não era. E talvez o misterioso Parreira esteja pensando sempre numa seleção adequada para cada jogo. Para equipe que bate muito, como Gana, jogadores pesados. Mais na frente, quem sabe a música seja outra. Parreira, hoje dono do time e enfim livre da sombra de Zagallo, vive a mais terrível solidão da Copa. Mas não dá para reclamar – até aqui, Parreira 4, Críticos 0.

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