Dias atrás soube que o Reino Unido decidiu encerrar as atividades de sua "unidade de investigação de óvnis", que funcionava há mais de 50 anos. Por quê? Ora, porque o custo do órgão público estava alto demais. Com a remoção do único funcionário da unidade, o império britânico vai economizar mais de R$ 125 mil por ano. Não se pode culpá-lo de inchaço da máquina pública: um só funcionário, ainda que, convenhamos, bem pago até para os padrões europeus, cuidava de vigiar a eventual e potencialmente perigosa presença de discos voadores nos céus da Rainha.
O interessante é o motivo do fechamento. Não encerraram a unidade porque discos voadores não existem ou porque perceberam que a simples presença de um órgão oficial para investigá-los seria intrinsecamente ridículo. Nada disso. O funcionário foi realocado porque os recursos despendidos pelo setor "serão destinados a prioridades mais importantes". Momentaneamente, os etês britânicos estão sem vigilância.
Fico matutando se o Brasil deveria abrir uma unidade de investigação de objetos voadores não identificados. Melhor não. Claro que sempre há o risco de uma invasão de marcianos, mas penso que o custo da precaução seria muito mais alto que os eventuais estragos dos alienígenas. Primeiro porque jamais abririam um departamento importante assim (talvez até constituindo ministério autônomo) com um único funcionário. Trabalho dessa envergadura exigiria um prédio próprio, com projeto do Niemeyer até poderia ser inspirado no nosso célebre olho. A repartição seria dividida em várias sub-unidades o setor marciano, o venusiano, o dos discos voadores, o dos extra-terrestres propriamente ditos, e daí por diante.
E seria preciso povoar o prédio, criar o plano de carreira dos guardiões, abrir concurso, prever os cargos comissionados e melhor parar por aqui. Na boa tradição brasileira, em pouco tempo a repartição teria de investigar os próprios fantasmas, antes de encontrar algum alienígena ameaçador, e eis mais uma crise política para o presidente descascar.
Pensando bem, uma pena. Eis aí uma ocupação que me agradaria, agora que sou um desempregado: guardião de ET. Fico me imaginando no alto de uma torre, no meio de nada, vigiando o vento em busca de extraterrestres. Horas, meses e anos passariam lentos naquelas janelas circulares. De vez em quando a cada sete anos uma luz qualquer brilharia no horizonte, para grande alvoroço do guardião. No fim, é claro, nunca seria nada, mas um detalhado relatório do evento seria escrito, carimbado, rubricado e enviado ao pessoal do terceiro andar para análise, que poderia repassá-lo ao quinto andar a fim de instaurar um novo processo investigativo, ou remetê-lo diretamente ao subsolo para dar baixa. Eu esticaria as pernas diante do janelão, imerso no silêncio, e voltaria à paz dos justos.