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Estava eu a escolher frutas e verduras no supermercado, uma atividade tranquila (eu diria até filosófica) de que gosto muito, conferir beterrabas, pés de alface, descobrir a diferença entre a rúcula, o espinafre e o agrião, avaliar o vaivém dos preços ao sabor da especulação e da geada, propor mentalmente reformas das gôndolas para que elas atendam melhor à clientela, reclamar do saco plástico, muito pequeno para as batatas e imenso para o maço de salsinha, lamentar a ausência de laranja lima e o estado do tomate, ou completamente verde ou podre de maduro, calcular previamente o peso final das sacolas para uma caminhada suportável até em casa, quando, sem querer, entreouvi uma conversa de duas senhoras, já entrando no que se chama de terceira idade, diante de um bandejão de mangas palmer:

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– Pois a minha nora me ofereceu algumas frutas, disse que ia levar lá em casa, aquela conversa fiada, e até hoje estou esperando. – Escolheu uma manga, apalpou-a, olhou-a por um segundo com olhar de dura avaliação, e devolveu-a, pegando outra. Prosseguiu: – Vou levar algumas frutas eu mesma. Quem espera sapato de defunto, morre descalço.

Isso imediatamente me interessou. Fingi me interessar também pelas mangas – de fato, horríveis e caras –, mas querendo de fato ouvir mais ditados populares, que são uma espécie épica de sabedoria popular, a síntese de séculos de percepção da realidade, sedimentada em meia dúzia de palavras indiscutíveis, e que, multitarefas, tanto podem servir para destruir injustiças como para consolidar preconceitos. Por exemplo: onde tem fumaça, tem fogo. Mas essa do sapato do defunto eu não conhecia, e achei interessante que contrariava o clássico provérbio sobre a esperança humana: "Quem espera sempre alcança". Um ditado da oposição, digamos assim. Enquanto a situação nos aconselha a ficar quietos esperando num canto, porque a vida nos proverá, pois quem espera sempre alcança, a outra prefere reagir, tomar a iniciativa, se mexer, ou morrerá descalça. Há sempre um utilitarismo na frase-feita, um saber de calendário. Enfim, não há área da atividade humana a que não corresponda um bom e definitivo provérbio.

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As duas senhoras prosseguiam a conversa, animadas, e discretamente me mantive atento, esperando outro dito popular original, que afinal veio, quando a minha fonte de informação interrompeu a fala, olhou para mim – idiota, conferindo a mesma manga já diante dos repolhos, de ouvido aceso – e desfechou impiedosa:

– Quem muito espicha a orelha – e um guri gritou súbito ao meu lado, "maiêee, a cenoura está aqui!", de modo que perdi para sempre a segunda parte. Quem muito espicha a orelha torce o rabo? Não, acho que esse é outro. Quem muito espicha a orelha... não sei. Pus o rabo entre as pernas e saí de fininho para pagar, na fila das cestinhas.

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