Para escapar de dezembro e de seu imenso pacote de aporrinhações, decidi me refugiar no Litoral desde o dia 10, em algum lugar perdido entre Praia de Leste e Matinhos. Uma rua povoada de meia dúzia de aposentados, longe de tudo e perto do mar, e silenciosa de noite, dá para ouvir a grama crescer. Dizem que com o derretimento da calota polar, tudo isso vai ficar debaixo dágua, mas por enquanto as coisas ainda estão seguras. Tomara que o pessoal de Copenhague tenha feito um bom trabalho. Não sei no que deu. Aliás, estou há mais de vinte dias sem ouvir notícia nenhuma.
Porque o outro desafio dessas férias radicais (que rafting, que parapente, que nada dessas molezas) era fugir da internet. Isso sim é coragem. Confesso: sou netadicto. Não sei se a palavra existe se não, acabo de inventá-la. Netadicto. Dependente patológico da internet. Viciado mesmo. Daqueles de olhos esbugalhados. Não posso ver um computador que já vou clicando, atrás de alguma razão para viver. Passo horas diante da telinha virando páginas sem fim e sem sentido, que vão direto para o sangue e amortecem o cérebro. Não consigo passar duas horas sem saber o que aconteceu com a Xuxa, que bomba explodiu e quantos morreram, qual a última do Lula, o que alguém disse que outro falou que vai acontecer não sei com quem, o mais recente escândalo da família real, quem foi eleito na Lapônia, por que a vaca não tem penas, a próxima novela das oito enfim, a quantidade de coisas que eu não sei é assombrosa!
E tem mais para alimentar a alma insaciável do netadicto: os e-mails. Como vou sobreviver sem os e-mails diários que chegam, numa regularidade de "plins" que calibrei em cinco em cinco minutos? Minha dependência digital é tanta que passar uma hora sem receber emails provoca sintomas alarmantes de depressão imediatamente mando um e-mail a mim mesmo para conferir se não seria um problema do provedor. Alguns meses atrás, quando eu ainda não era viciado, devolvia raivoso toda publicidade, todo chato e toda mala direta que caía aqui, com um arrogante REMOVER. Claro que ninguém obedecia e a coisa voltava em dobro por vingança, o que foi insidiosamente criando minha dependência virtual.
Agora, com o tratamento de choque, sou um outro homem. Mas não foi fácil. Nos primeiros dias, tudo bem. Ainda intoxicado da internet, tinha muitas páginas para queimar enquanto contemplava o mar e matutava quando enfim o caminhão da prefeitura passaria para recolher o lixo (levou sete dias e vários telefonemas, o que sempre distrai). Depois, os sintomas da síndrome de abstinência começaram a aparecer principalmente a sensação angustiante de que, sem internet, não faço mais parte da humanidade. É preciso resistir. Passar em frente a uma lanhouse e nem olhar. Fiz caminhadas ferozes, fritei peixe, preparei galetadas e li pilhas de livros. Hoje, acreditem: estou limpo.
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