Sempre me surpreendo com a força das teorias conspiratórias aqueles conjuntos complexos de explicações estapafúrdias, inverossímeis e mirabolantes para dar conta dos fatos ou apenas para simplesmente inventar o que não existe. São teorias que mexem com desejos profundos e representam um esforço extraordinário do engenho humano para adaptar a realidade à nossa vontade.
Naquela confissão sussurrada em voz baixa, no tom de um templário com acesso exclusivo aos arcanos da máquina do mundo e que nos dá a colher de chá de passar o segredo adiante (só faltando dizer "não espalhe!"), deixamos entrever o sonho de um mundo ideal à nossa imagem e semelhança. Há algumas regras na formulação conspiratória. Primeiro, é preciso que ela não faça nenhum sentido justamente aí está o seu charme. E é fundamental também que não haja prova alguma; se houvesse, qual a graça?
Há exemplos clássicos, como a explicação delirante que atribui o ataque às torres gêmeas a uma conspiração judaica, ou, em escala mais inocente, a certeza que grassava em 1985, à boca pequena, de que Tancredo Neves havia sido assassinado.
O ócio é rico em conspiração. Como me decretei seis meses de férias para me desintoxicar de 40 anos de trabalho, passo o dia vendo filmes, tentando vencer o sentimento de culpa por não fazer nada. E comecei a perceber que nas produções recentes, como numa volta aos anos 1950, os atores fumam desbragadamente. Sejam os filmes americanos, franceses, suecos, ingleses, brasileiros, coreanos, argentinos, japoneses ou russos, homens e mulheres, jovens e adultos (e até mesmo crianças, se a cena se encaixa no roteiro), todos fumam sem parar pensando, falando, bebendo, fazendo amor, caminhando, discutindo. A cada dois minutos, mocinhos e bandidos acendem um cigarro e trocam baforadas um na cara do outro. Até mesmo no ecológico Avatar, uma personagem, aliás do lado do bem, fuma feito uma louca, e isso dentro de uma sofisticada estação espacial, o que contraria todas os regulamentos do universo moral contemporâneo; é verdade que ela morre no fim, mas não de enfisema pulmonar, o que seria justo. Enfim, o único lugar em que hoje se permite fumar são os filmes.
Desocupado, tentando entender por que as pessoas estão fumando mais no cinema do que na vida real, acabei por inventar uma teoria conspiratória, que irresponsavelmente passo adiante: as empresas tabageiras, acuadas pelo terrorismo da vida saudável que tomou conta do mundo, estão despejando rios de dinheiro no cinema para que todos fumem sem parar; cada tragada em close deve valer um saco de dinheiro. Mas tudo isso em segredo como a publicidade de cigarro está proibida, a propaganda deve vir só pelo exemplo. E o espectador, aflito, apalpa o próprio peito atrás de um isqueiro e de uma carteira imaginária.
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