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Dante Mendonça

A cabra e o bode velho

Enfim, com a eleição do novo presidente da Câmara, trocaram um bode fedorento por um gato de Ipanema. Na percepção popular, o medonho Eduardo Cunha era o bode na sala da Dilma. Para resolver uma encrenca, foi preciso inventar uma encrenca maior ainda.

É a história da família que, vivendo apertada em uma casa minúscula, foi aconselhada por um palpiteiro a botar um bode fedorento no meio da sala. Como o convívio familiar se tornou insuportável, em seguida o sabido palpiteiro aconselhou os infelizes a botar o fedorento no olho da rua. Sem o intruso, a família respirou tão aliviada que os problemões se tornaram probleminhas. Todos pararam de lamentar o desconforto da casa em pandarecos e festejaram a brilhante ideia do palpiteiro.

Na percepção popular, o medonho Eduardo Cunha era o bode na sala da Dilma

No mesmo dia em que se deu o início do processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff deixou claro quem era o inimigo público número 1: o deputado Eduardo Cunha. Para o consultor de marketing político Emmanuel Publio Dias, com isso o governo petista aplicou corretamente uma das mais eficientes teorias de comunicação e marketing: o posicionamento. “Neste momento, ela propôs com sucesso uma troca de cenários e valores: já não era mais um governo considerado responsável pela crise e rejeitado por 2/3 dos brasileiros. Era uma presidente legitimamente eleita e sobre quem, efetivamente, não há prova de comportamento ilegal. Contra um deputado diariamente confrontado com a denúncia de práticas ilegais, aliado ao argumento de que agiu apenas por vingança de não ter tido sucesso em seus objetivos chantagistas.”

Agora que Eduardo Cunha é um insepulto rondando as catacumbas da Praça dos Três Poderes, enquanto Henrique Meirelles sustenta o novo governo com a sua elevada poupança de credibilidade e Michel Temer nada de braçadas para receber a medalha de ouro do Senado, o que nos resta é especular sobre o papel de Dilma Rousseff nos próximos anos.

Se não retornar definitivamente a Porto Alegre, para o bem da nação Dilma Rousseff teria a função da cabra na sala de Michel Temer. Sem nenhuma ofensa à presidente afastada, pois a revista científica Biology Letters acaba de publicar uma pesquisa demonstrando que a cabra tem uma inteligência bem superior ao que se acredita, capaz de competir com a do cachorro.

Conforme estudo de cientistas ingleses (sempre eles!), sendo bem tratada a cabra tem lá os seus afetos, capaz de ter um relacionamento humano semelhante aos cães e gatos. Testes realizados na Queen Mary University of London mostraram que os caprinos tem um QI bem maior do que aparentam: vivem em grupos sociais complexos, por muito tempo, e são capazes de construir um grande repertório de memórias e habilidades – coisa que animais de vida curta não fazem. Altamente exigente na hora de escolher o que vai comer, a cabra não mede esforços para ir atrás das folhas e ramos que considera mais saborosos.

Os cientistas políticos do Reino Unido ainda não estudaram o caso. No entanto, os governistas (ou “golpistas”, se assim preferirem) teriam um Plano B para a possibilidade de Henrique Meirelles não ter forças suficientes para botar a economia nos eixos e as reformas sumirem no ralo dos sindicatos.

Em último caso, deixem a cabra amarrada nas barbas do bode velho. A cabra no Palácio Alvorada, o bode velho no Palácio do Planalto. Assim como está: com Dilma na sombra do Temer, o pior não pode acontecer. De uma forma ou de outra, os eleitores sempre precisam de uma criatura para expiar os seus pecados.

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