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Dante Mendonça

A gralha e o papagaio

 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Diz o folclore político que o ex-prefeito Maurício Fruet, pai de Gustavo, tinha um assessor para assuntos de pândega. Era um papagaio, dos mais falantes e bem-humorados, com um vocabulário ligeiramente superior ao de certos jogadores de futebol. O louro que não era José acompanhava Maurício desde o seu tempo de Assembleia Legislativa e ficava sob os cuidados do chefe de gabinete, Douglas Bukoski, numa gaiola estrategicamente colocada ao lado de um armário que servia de arquivo.

Além de politizado, o papagaio do Fruet era coxa-branca fanático. Roxo, melhor dizendo. Assim como Gustavo. Quando sabia que iria receber um atleticano no gabinete, Maurício Fruet pedia a Douglas que se escondesse atrás do armário e, imitando o papagaio, desfiasse todo o seu arsenal de impropérios contra o visitante rubro-negro. Palavrões de arrepiar até Mário Celso Petraglia. Hábil na imitação, Douglas desempenhava com prazer o papel, uma vez que o pobre papagaio era quem levava a culpa.

Muitos dos indicados ao primeiro escalão estão aprendendo rudimentos do latim, para uma inevitável sabatina

Além dos palavrões, contam ainda que o papagaio do Fruet sabia de cor e salteado a escalação do Coritiba “Fita Azul” dos anos de ouro: “Currupaco! Célio, Hermes, Pescuma, Cláudio e Nilo! Currupaco! Hidalgo e Dreyer. Currupaco! Leocádio, Hélio Pires, Tião Abatiá e Zé Roberto. Currupaco!” Em outras ocasiões, Maurício perguntava ao papagaio: “O que é um atleticano inteligente?” E o papagaio respondia: “Currupaco! É um desperdício!”

Vai o homem, fica o folclore. Foi Gustavo Fruet, veio Rafael Greca. Uma nova ave a ocupar o poleiro no gabinete do prefeito de Curitiba. E não é um papagaio, desta feita é uma gralha, colorida e barulhenta, da Chácara São Rafael das Laranjeiras: a Gralha da Luz dos Pinhais.

Das mais falantes, letradas e eruditas, a gralha do ex-coroinha das igrejas do Rosário, da Ordem e da Catedral, como não podia deixar de ser, foi amestrada para receber determinados visitantes em latim. No caso do governador Beto Richa, ministros e demais autoridades com tinta na caneta, a saudação será sempre a mesma: “Ave, Cesar!”. Por outro lado, se o visitante pretender uma boquinha no gabinete, a gralha de formação eclesiástica vai citar Mateus, capítulo 22, versículo 14: “Grrrrááá! Muitos foram os chamados, poucos serão os escolhidos! Grrrrááá!” Pois sim, Rafael Greca prometeu reduzir em 40% o número de cargos comissionados e funções gratificadas na prefeitura.

Cientes da enorme influência e privilegiada posição da ave passeriforme da família dos corvídeos, muitos dos indicados ao primeiro escalão estão aprendendo rudimentos do latim, para uma inevitável sabatina com a Gralha da Luz dos Pinhais: “Grrrrááá! Amice, ad quid venisti?” (“Amigo, a que vieste?”), ela vai perguntar. “Em busca dos bons conselhos”, dirá o correligionário. Com toda a sua erudição, a gralha então desfia alguns princípios da nova gestão: “Ad consilium ne accesseris antequam voceris” (“Ninguém se meta onde não é chamado”); “Beati monoculi in terra caecorum” (“Em terra de cegos, quem tem um olho é rei”); “Amor et potestas impatiens consortis” (“Amor e o poder não querem sócio”); “Aspiciunt oculi duo lumina clarius uno” (“Quatro olhos veem mais do que dois”); e, ao fim e ao cabo, a poderosa ave dirá a quem interessar possa: “Absque argento omnia vana” (“Sem dinheiro, tudo é vão”). Grrrrááá!

Defenestrado do poder, o papagaio do Maurício Fruet vai jogar dominó com Gustavo em suas tardes de ócio no Passeio Público. Abalada com os últimos acontecimentos, a Gralha da Luz dos Pinhais – que vinha ensinando Rafael Greca a interpretar o hino de Curitiba à capela – enviou uma sucinta mensagem ao enfermo do Hospital Marcelino Champagnat: “Non fuit in solo Roma peracta die!” (“Roma não se fez num dia”).

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