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Dante Mendonça

A sedução das águas

 | Walter Alves / Arquivo Gazeta do Povo
(Foto: Walter Alves / Arquivo Gazeta do Povo)

A Baía de Paranaguá tem nas noites de mar pacífico e lua cheia o cenário perfeito para se jogar a tarrafa no imaginário. Antes disso, saibam os marinheiros de primeira viagem: ao atracar em Paranaguá, Antonina ou em alguma das ilhas alhures, convém observar as correntes marítimas, o calado dos baixios e, sobretudo, ouvir as lendas dos caiçaras.

No dia 18 de agosto de 2008, um maestro alemão morreu afogado na Ilha do Mel. O que seria uma sinfonia em terra firme acabou numa tragédia mar adentro. Quando se banhavam na Praia de Fora, não longe da Gruta das Encantadas, 14 músicos foram puxados por uma corrente de retorno e um deles, o maestro Christian Buss, 39 anos, afogou-se e morreu no local.

Convém observar as correntes marítimas, o calado dos baixios e, sobretudo, ouvir as lendas dos caiçaras

Com 84 componentes, a orquestra de sopro Musikverein Echo Ubstadt estava no Brasil para uma série de apresentações. Por volta das 13 horas, parte deles resolveu entrar na água, quando foram pegos de surpresa pela corrente. De acordo com o major Edenílsom Barros, do Corpo de Bombeiros do Litoral, os visitantes, por não conhecerem o mar, resolveram nadar contra a corrente, o que contribuiu para a tragédia: “Se eles soubessem como proceder nessa situação, certamente nada disso teria acontecido. O que se tem a fazer é deixar a corrente levar o corpo para depois nadar paralelamente à praia. Agindo assim, a pessoa poupa forças, o que é importante quando se está no mar”.

Se no local do afogamento existisse sinalização e o maestro de Frankfurt conhecesse as crendices dos caiçaras, o destino não teria sido assim perverso. Conta a Lenda das Encantadas (recuperada por Alceo Tramujas) que certa vez um marinheiro ancorou sua embarcação em frente à Ilha do Mel e desceu para conhecer a gruta do Mar de Fora. Quando botou o pé na areia, foi atraído pela magia das ninfas, que cantavam uma mensagem em dialeto indígena: “Passa com cuidado a ponte e vive bem com os outros. Assim como eles vivem bem, tu também poderás viver. Hão de te vir buscar e te levarão com eles para a tua morada”.

O navegante ficou maravilhado. Mais ainda encantado ao percorrer com os olhos as misteriosas mulheres nuas, de longos cabelos e curvas generosas, que bailavam na praia. Extasiado, fixou o olhar em uma delas e deu a mão à escolhida. A ninfa respondeu na língua nativa: “Tens de partir, homem estranho. Gostei de ti, mas tens de partir”. Seduzido, o homem do mar respondeu: “Nunca! Jamais arredarei os pés de perto de ti, meu amor!” A ninfa tornou a falar, com a voz de água doce: “Para que venhas comigo, é preciso que morras! Se tu aceitas, te convido. Vem, meu doce amor! A fonte doce da vida nos chama. Vamos, sem mais demora!”

Com as mãos entrelaçadas, ouvindo os cânticos das demais ninfas, caminharam mar adentro. Ao desaparecerem sob a água, restou a certeza do mais puro e lindo amor. As encantadas ninfas se foram com o marinheiro, para nunca mais surgir.

Oito anos depois de o maestro Christian Buss ser atraído pelas Ninfas das Encantadas, o publicitário Eduardo Visinoni lembra que o destino do ator Domingos Montagner, nas águas do Velho Chico, foi mais uma das tragédias que acontecem nas águas do Brasil afora, por falta de uma simples placa de sinalização.

Naquele inverno de 2008, Visinoni também se encantou com as ninfas da Ilha do Mel. Seduzido, quase morreu afogado numa corrente de retorno. Ao relatar o acontecido na pousada, alguém completou: “Morrem muitos turistas ali naquela praia!” O publicitário, então, advertiu: “Se fora da temporada não tem salva-vidas, é preciso ter pelo menos uma placa alertando do perigo!” O nativo passivamente respondeu: “Seria bom!”

Semanas depois o maestro alemão foi seduzido na mesma praia.

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