O horário de verão acaba domingo. É pouco. Com uma hora a mais à luz do dia, com folga no relógio, a cidade também fica mais folgada, com muito riso e pouco siso. No horário de Brasília, o horário de verão começa pontualmente à zero hora do terceiro domingo de outubro. No horário de Curitiba, o horário de verão começa pontualmente às 18 horas, numa mesa qualquer do Largo da Ordem, com carne de onça e chopinho ao ponto.
No Brasil, onde o chope vespertino é uma instituição, o horário de verão foi decretado em 1931, por Getúlio Vargas. No começo, de forma descontínua, os folguedos de fim de tarde só emplacaram porque foram os cariocas da Capital Federal a introduzir o chope, conforme diz a lei, com três dedos de colarinho!
O curitibano não perde o bonde e sempre se orientou pelo relógio de sol da Farmácia Stellfeld, na Praça Tiradentes, mais pontual que os sinos da Catedral. Só não é mais consultado porque o sol pouco aparece por essas bandas. Aqui não se joga o tempo fora, não perdemos um minuto nem para contar as horas. Apenas contamos as estações, que são quatro por dia. Essas quatro estações, além de caretas, são pouco confiáveis. A primavera, então, costuma ter orgasmos precoces em plena rua: quando menos esperamos, já em agosto ela faz os ipês se derramarem em amarelo. O inverno, coitado, é agora um manso. O outono, mesmo com a sua elegância de sempre, é tímido demais. O verão, esse é um traiçoeiro.
Uma das nossas lendas conta que Deus, numa segunda-feira, criou Curitiba. Pelo menos assim imaginavam os nativos. Com parques, praças, muito topete e gente devagar no trânsito. Achou monótona e então, na terça-feira, criou o inverno. Com sua névoa, cachecóis e o vinho de Santa Felicidade. Mas achou o frio muito triste. Na quarta-feira Deus criou a primavera, florida e colorida para enfeitar os parques e praças. Não satisfeito, Ele achou a cidade bucólica demais. Na quinta-feira, criou o verão: colorido e saudável, para fazer a Cidade Sorriso. Bom estava, mas achou a estação muito seca e, na sexta-feira, criou o outono. Farto e ameno, uma delícia. Então Deus achou tudo muito distante e, no sábado, misturou tudo. Fez o inverno, a primavera, o verão e o outono reinarem no mesmo dia em Curitiba.
E no domingo Deus descansou. Na verdade, caiu de cama, pois não sabia que tinha acabado de criar o resfriado, a gripe, a rinite e uma desculpa esfarrapada para não trabalhar no dia seguinte.
Curitiba, com licença, tem cinco estações. Pela manhã, o inverno. Em torno das 10 horas, o outono. Ao meio-dia, o verão. À tarde, a primavera. E, no fim do expediente, aquela uma hora a mais que nos concede o clima da bem-aventurança.
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