(De Barcelona)

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Ao passar em revista o Mercat de La Boqueria, onde a Catalunha se abastece desde a Idade Média, me veio o palpite de que o prefeito Gustavo Fruet – tendo herdado do pai Maurício a receita do carneiro afrodisíaco – poderia sugerir um rol de acepipes tipicamente curitibano para recepcionar os torcedores espanhóis na Copa do Mundo.

Nos encantan las tapas, unos berberechos y unos boquerones, entretanto, poderíamos começar com uma legítima carne de onça do tempo do Onha, variados bolinhos de carne dos bairros, bucho à milanesa do Edmundo, lambaris do rabo vermelho, rollmops avinagrados e, sem nenhum pudor, serviríamos uma de nossas especialidades que encantaria os espanhóis: testículos de touro – tira-gosto de origem ibérica, por supuesto.

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No Paraná, testículos de touro vêm à mesa desde quando Dom Álvar Núñez Cabeza de Vaca descobriu Foz do Iguaçu. Está numa das obras do paranaense José Carlos Veiga Lopes, História da Fazenda Santa Rita, o relato dos hábitos alimentares no dia a dia dos Campos Gerais no início do século passado. Sempre havia porco no chiqueiro para a engorda, para feitio da banha, torresmo, linguiça e carne defumada. O chimarrão era de uso habitual. Às vezes havia churrasco de boi ou carneiro, sempre temperado apenas na salmoura. A sobremesa dos peões era geralmente uma xícara grande de café preto, enquanto que na sede tomava-se leite com farinha de milho branco e pessegada, ou moranga (abóbora) com leite. Costume comum no inverno, a sapecada de pinhão. Nas castrações, eram feitos bolinhos de bagos de boi, quando os mesmos eram aferventados, moídos e misturados com farinha de trigo, ovos de galinha e cheiro-verde e fritos na banha.

Alguns preferem aquilo frito com farinha e ovos, outros preferem cozidos e inteiros. Para os espanhóis, essa é a receita afrodisíaca para duas pessoas: meio quilo de rabo de touro, dois testículos de touro, uma cebola grande, três dentes de alho, dois tomates bem maduros, duas cenouras, uma pitada de açafrão, um dedinho de vinagre, um copo de vinho branco seco, sal e pimenta. Depois de cozinhar por três horas, batatas salteadas, bastante cebola e um bom vinho tinto são elementos fulcrais na confecção deste opíparo prato. Além, é claro, de um estômago tolerante.

Conta-se que certo dia, em Sevilha, Ernest Hemingway pediu para experimentar a exótica tapa espanhola que ainda não conhecia.

"Cocidos y interos, señor?" – perguntou o garçom. "Si! Con mucha pimienta, gracias!"– respondeu o escritor.

Quando o bodegueiro o serviu, Hemingway ficou com aquilo roxo. Ao verificar o pequeno tamanho das pelotas que estavam no prato, Hem desatou a reclamar. Ante os protestos, o garçom respondeu: "Senõr, as veces es el toureador quien perde!"

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