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No bairro das Mercês, em novembro de 2012, os apostadores da Loteria do Queixo estavam ansiosos por saber a quantos anos o ex-ministro José Dirceu seria condenado. 09-10-11-12, seria ele um burro? 05-06-07- 08, daria águia na cabeça? Ou o ministro Lewandowski, ao pechinchar alguns anos a menos, 01-02-03-04, iria enfiar a cabeça na areia como avestruz? Somando tudo, 33-34-35-36, chegaria Zé Dirceu a ser comparado a uma cobra venenosa?

No fim das contas, o STF condenou Zé Dirceu à pena de dez anos e dez meses. Noves fora uma multa de R$ 676 mil, quem não conheceu a loteria do falecido Irineu Mazzarotto, o Queixo, deve estar se perguntando: o que o Zé Dirceu tem a ver com o jogo do bicho? Tudo a ver, agora mais do que nunca, pois com as propinas da Petrobras chegamos à conclusão de que o Zé Dirceu não é veado, não é elefante, muito menos burro: é um bicho de sete cabeças.

Conta-se no Alto das Mercês que, antes de se refugiar em Cruzeiro do Oeste e conhecer a ex-mulher Clara Becker, com quem casou na clandestinidade usando o nome falso de Carlos Henrique Gouveia de Mello, Zé Dirceu teria sido hóspede de Adolfo Becker, tio de Clara, um dos mais poderosos bicheiros de Curitiba na década de 70.

Pode ser verdade, pode não ser. No entanto, alguns moradores da Avenida Manoel Ribas juram que, em plena ditadura militar, um vulto em movimento volta e meia era visto na janela do sótão da mansão da família Becker. O mesmo vulto que atravessava sorrateiro o portão, disparava num automóvel e sumia na bruma.

Alguns moradores da Avenida Manoel Ribas juram que, em plena ditadura militar, um vulto em movimento volta e meia era visto na janela do sótão da mansão da família Becker

Aquela misteriosa sombra no sótão dos Becker seria mesmo Zé Dirceu? Os que sabem da lenda – aqueles antigos moradores das Mercês –, passam de mão em mão a foto de Zé Dirceu e apontam com uma sombra de dúvida: “Se não me falha a memória, é ele mesmo! Varava madrugada, parecia um cuco na janela do sótão”.

Interrogada a respeito, Clara Becker desmontou qualquer resquício de veracidade na boataria. Negava parentesco com os Becker de Curitiba (os Becker de Cruzeiro do Oeste são gaúchos) e afirmava que só viera a Curitiba uma ou duas vezes. Por outro lado, numa entrevista à revista Veja, Clara alimentava com algumas contradições a lenda do alto das Mercês. Ela lembrava que vinha a Curitiba com Zé Dirceu para as festas de família. E, naquelas ocasiões, notava o marido estranhamente nervoso, desconfortável. Só depois de revelada a verdadeira identidade de Carlos Henrique Gouveia de Mello ela viera a entender o desconforto: Zé Dirceu tinha medo de ser reconhecido por antigos companheiros de Curitiba.

O suposto e antigo relacionamento de Zé Dirceu com um dos mais poderosos bicheiros de Curitiba seria apenas mais uma lenda curitibana, nada mais, nada menos. No entanto, diante de tantas façanhas atribuídas ao ubíquo bruxo petista – na América Latina e na África –, chega-se à conclusão de que o ex-marido da Clara Becker é tão resistente quanto um bicho de sete cabeças.

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