Tudo indica que, mais uma vez, os indecisos e os desertores vão eleger o próximo presidente da República. E não são poucos os hesitantes. Bem mais do que apregoam os institutos de pesquisas, que ainda esquecem de levar em conta outra categoria de eleitores: os cépticos.
Contingente eleitoral muito mais vasto e impreciso que os indecisos, céptico ou cético é o cidadão que duvida de tudo; o descrente; o ateu. Cepticismo é uma corrente filosófica que tomou conta do inconsciente político do povo brasileiro desde a Proclamação da República, quando o enfermo Marechal Deodoro precisou de ajuda para montar no cavalo, contrariando as ordens do médico. O dicionário assim define o cepticismo: "Atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a qualquer conhecimento indubitável (incontestável), quer nos domínios das verdades de ordem geral, quer no de algum determinado domínio do conhecimento".
Na Antiguidade, era a designação da doutrina do filósofo grego Pirro. Daí o céptico julga que, ganhe quem ganhar, cabe ao eleito uma vitória de Pirro. Ou, grosso modo (e bota grosso nisso), que vença o pior!
Quem vai às urnas com uma ideia fixa, com um candidato na ponta da língua e na estampa do santinho, são os indubitáveis. Esses não têm dúvidas, nem remorsos. Pelos estatutos da sobrevivência, os indubitáveis são eleitores que depositam seus votos nas urnas como se fossem depositar um cheque pré-datado.
Aos cépticos isso as pesquisas também não mostram devemos somar os decepcionados e arrependidos. E, se arrependimento matasse, brasileiro não teria título eleitoral. Teria atestado de óbito.
Céptico é o cidadão que já não sabe se certos políticos são homens ou ratos. Indeciso é o não decidido; o duvidoso, hesitante, irresoluto. Pelo simples fato de a eleição não estar decidida, cabe a palavra final ao indeciso.
Para o eleitor do sexo masculino, machista por natureza, é própria das mulheres a falta de espírito de decisão, a capacidade de decidir ou resolver de pronto. Usando como exemplo uma velha piada, no trânsito temos uma colisão na via de mão dupla: "Seu guarda, a madame fez sinal de que ia entrar à esquerda. Acelerei, também desviei à esquerda, e fui com tudo pra cima do carro dela". "Mas a senhora não estava sinalizando que ia entrar à esquerda?" "Justamente! É inacreditável, mas ela entrou de fato à esquerda! Quem iria imaginar? O normal seria a madame sinalizar à esquerda e entrar à direita!"
A política tornou-se via de mão única em direção ao poder. Esquerda ou direita, as regras básicas da circulação ideológica já não fazem mais sentido. Resta aos cépticos, portanto, entrar na contramão. E, aos desertores, o prazer de pagar uma multa irrisória para passar o fim de semana na praia. Longe, bem longe da boca de urna.
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