Conforme nosso velho e confiável Atlas (um dos titãs gregos, condenado por Zeus a sustentar o céu que nos protege), o mundo é dividido em quatro reinados: o Reino da Rainha Primavera; o Principado do Verão; o Reino do Arquiduque Outono e o Reino do General Inverno. Todo esse universo sob o domínio do Supremo, cujo primeiro-ministro é São Pedro.
Assim na terra como céu, as atmosferas também entram em conflitos. É o que está acontecendo tanto no Hemisfério Sul quanto no Hemisfério Norte, com as quatro estações em pé de guerra. Sem falar a mesma língua, não respeitam nem mesmo a Linha do Equador: o solstício e o equinócio devem ocorrer duas vezes por ano, geralmente nos dias 20, 21 ou 22 de junho e dezembro, no caso do solstício, e nos dias 22 ou 23 de setembro e 20 ou 21 de março para o equinócio.
Às vésperas deste Equinócio de 20 de março, São Pedro chamou às falas os quatro reinos sob sua jurisdição: “Segundo meus observadores, está havendo uma intolerável invasão de fronteiras. Há mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar minha vã filosofia?”
neste Equinócio de março estão acontecendo sucessivos e assustadores conflitos políticos
O primeiro a pedir a palavra foi o Arquiduque Outono, antes cantado em prosa e verso, famoso por suas paisagens em sépia, hoje um reino que não inspira nem mesmo os compositores sertanejos universitários: “Meu reino por um cavalo!”, clamou.
“Sinto dizer” – interrompeu o General Inverno – “mas este esmaecido senhor está completamente gagá! Se acha o próprio Ricardo III!”
“Um cavalo!” – continuou o Arquiduque – “Ah! Se eu tivesse pelo menos um cavalo para me defender das investidas deste tenebroso Inverno! Como se não bastasse o seu histórico de guerra, agora invade sem nenhum motivo minhas paisagens outonais”.
“Sempre em defesa própria!” – ressalvou o General. “Primeiro derrotei Napoleão, depois livrei o mundo do apocalipse nazista!”
“Então nos diga!” – desafiou o príncipe veranista. “Alguma guerra está sendo travada no Hemisfério Sul? Com que intenções as forças siberianas invadiram meu território, antes do Equinócio de março?”
“Ora, ora, o Equinócio de março...! Por acaso o Principado do Verão respeita o Solstício de dezembro? Que nos diga a Rainha Primavera!”
Ao abrir seus lábios de mel, a Rainha das Flores inundou a sala de audiências com um hálito primaveril: “Há muito tempo que o meu reino cortou relações com o Principado do Verão. Por fazer fronteira com este prepotente invasor, há muitas e muitas primaveras não comemoramos condignamente o Solstício de dezembro. Perdemos na memória a fronteira entre os ares benfazejos e as chamas do inferno”.
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Na tradição chinesa, o Equinócio é o Dia do Ovo em Pé. O Dia do Equilíbrio. Originou-se de uma lenda do antigo império chinês, quando descobriram que no Equinócio de março se consegue a façanha de equilibrar os ovos. Numa outra situação, conhecemos a proeza de Cristóvão Colombo. Ao botar um ovo em pé, o navegador provou ao mundo que certos problemas, depois de solucionados, mostram-se de uma obviedade ululante.
Com tantas nuvens cúmulo-nimbus estacionadas nos céus do Brasil, neste Equinócio de março estão acontecendo sucessivos e assustadores conflitos políticos. Num clima assim carregado, com seus velhos truques Luiz Inácio Lula da Silva pode surpreender a nação com outro Ovo de Colombo? Ou a presidente Dilma – com todo o respeito! – é capaz de botar um ovo em pé?
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