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Ao analisar as consequências da Operação Lava Jato, o diretor da Adega Oficial do Estado só tinha uma preocupação no curto e médio prazos: “De modo geral os esquemas devem voltar à normalidade quando baixar a poeira, com pequenas variações operacionais. O que me preocupa sobremaneira é a manutenção da adega. Nossos convivas não bebem outra coisa a não ser os raros vinhos doados por empreiteiros, os melhores do mundo dos negócios!”

Franchette Rischbieter – mulher do ex-ministro Karlos Rischbieter e filha de Madame Garfunkel, a inesquecível diretora da Aliança Francesa de Curitiba – conhecia de berço os vinhos honestos. A mãe de Mônica Rischbieter, diretora do Teatro Guaíra, tinha uma frase na ponta da língua para receber o empreiteiro Cecílio do Rego Almeida no seu gabinete da prefeitura de Curitiba, lá pelos idos da década de 1970: “Qual foi a irregularidade que você veio me propor hoje?”

Alguns preferem propinas em vinhos, outros em contas na Suíça. A maioria prefere na mala ou na cueca, mas em espécie. Do ex-deputado Aníbal Curi se dizia de tudo. Dizia-se, inclusive, que no exterior ele só usava dinheiro vivo nos restaurantes, quando largava uma nota de 100 dólares sobre a mesa e se entendia com os garçons em qualquer idioma do planeta.

Alguns preferem propinas em vinhos, outros em contas na Suíça

Com seu modus operandi, Aníbal não dava ponto sem nó e fazia um camelo passar pelo buraco da agulha: para abrir as portas certas no governo –qualquer governo –, ele não aceitava propinas depositadas aqui ou na Suíça. Nada por escrito, com ele era no fio do bigode ou no fio da memória. Em troca, só não abria mão de receber os merecidos favores. Enquanto os bacanas acumulavam dinheiro na conta corrente, Aníbal tinha um “contencioso de favores”. Hoje seria uma fortuna incalculável, fora de alcance até do juiz Sérgio Moro.

Verdade ou não, mas ouvi de um saudoso jornalista que, no dia 14 de dezembro de 1968, estava ele conversando com o ex-governador Paulo Pimentel, quando Aníbal adentrou subitamente à sala.

(Como se sabe, o “guru” – assim Aníbal era conhecido – não batia na porta de ninguém para ir entrando. Conta-se que, ao morrer, entrou de repente na sala do Todo-Poderoso e já foi perguntando: “Quem mandava aqui?”)

Com a edição, no dia anterior, do Ato Institucional n.º 5, esbaforido e suando em bicas, o “bruxo” tinha notícias frescas do que se passava no meio político: “Aníbal, como está o clima lá na Assembleia Legislativa?”, perguntou Pimentel. “Tudo calmo, governador. Por enquanto os militares não estão prendendo os corruptos. Só estão levando os comunistas de sempre!”

Quando Luiz Abi Antoun pagou as despesas de hospedagem de Mauro Ricardo Costa, o brimo do governador Beto Richa agiu com a intenção de prestar um favor ao futuro secretário. Nada mais, nada menos, investiu no seu próprio “contencioso de favores”.

Aníbal Curi ficaria envergonhado com tanto amadorismo.

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