| Foto: Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados

Muitos são os apelidos que entraram para a história do Brasil: Aleijadinho é Antônio Francisco Lisboa, o escultor do Brasil colonial; o pai de José Ribamar chamava-se Sarney de Araújo Costa, logo, o ex-presidente seria chamado de “Zé de Sarney”; Luiz Inácio Lula da Silva; Pelé é Edson Arantes do Nascimento; “Queixinho” é como o compositor Noel Rosa era tratado na escola; Gal Costa é, na verdade, Maria da Graça Penha Burgos; Elis Regina era a “Pimentinha”; Agenor de Oliveira era Cartola; Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha; Chitãozinho é José de Lima Sobrinho; e o já saudoso Luiz Carlos Sorelli era o técnico Caio Júnior.

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Paranaguá é o berço dos apelidos. Pisou ou passou ao largo da Pedra, a Boca Maldita da cidade, é batata! Ninguém escapa. Berço da história paranaense, nos bons tempos da navegação de cabotagem um marinheiro holandês desembarcou no Porto de Paranaguá e por lá ficou trabalhando como catraieiro. Bom camarada, como falava vários idiomas passou inclusive a ensinar línguas aos amigos mais chegados. Porém, bebia de tal maneira que muitas vezes dormia numa canoa, onde acabou morrendo afogado quando a maré jogou a embarcação contra um navio. O holandês, que por muita coincidência tinha uma orelha pitoca, ganhou um apelido à altura de suas bebedeiras: Van Grogue.

Ainda não se sabe se o encarregado do “Setor de Operações Estruturadas” da Odebrecht fez estágio em Paranaguá

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Companheiro do pinguço holandês, outro marinheiro que gostava de tomar umas e outras era o Garrafa n’água. Como andava com o pé redondo, balançando para todos os lados, parecia uma garrafa boiando. Navegador, poeta e encenador da Paixão de Cristo, quando o barbudo Wilson Rio Appa aportou na cidade com a mulher, as malas e dois filhos, ganhou o muito apropriado epíteto: Jesus Cristo em férias.

Mais recentemente, Eduardo Requião – cujo sobrinho é conhecido como Mamona Júnior – chegou a Paranaguá também boiando, depois de cair de paraquedas na Superintendência do Porto. Com sua frondosa cabeleira branca, o primeiro-irmão nem precisou botar a cabeça na janela: Vovô Naná ficou para a história como um dos mais festivos administradores da Ilha das Cobras, a residência de verão do governo do Paraná.

Dos nossos governadores, a propósito, Manoel Ribas era mais conhecido pela alcunha de Maneco Facão; José Richa, com toda a sua bonomia, era chamado nos corredores do Palácio Iguaçu de Turcolento; e um outro, que ainda se diz mais impoluto que o Nazareno, era o Pizzaiolo: uma vez por mês passava numa extinta pizzaria na esquina da Carlos de Carvalho com a Desembargador Motta para receber sua fatia de dólares dentro de uma maleta que era passada por baixo da mesa.

Conta o jornalista Francisco (Pancho) Camargo – depois de ouvir a versão original do parnanguara Luiz Geraldo (Lulu) Mazza – que certa feita um cidadão chegou a Paranaguá disposto a sair de lá sem levar um apelido pelas costas: hospedou-se em um hotel, na Praça Fernando Amaro, e lá passou três dias em clausura. Quase total. Mas, volta e meia, só para conferir o ambiente externo, entreabria cuidadosamente a janela do quarto e dava uma espiada na movimentação e frequência da Pedra. As breves e pontuais aparições do rosto do visitante na janela, no entanto, tinham sido registradas. Quando ele seguiu para a estação, para ir embora, crente que não tinha sido carimbado com um apelido, alguém gritou: “Cuco! Cuco!”

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Ainda não se sabe se o encarregado do “Setor de Operações Estruturadas” da Odebrecht fez estágio em Paranaguá. Contudo, pela hilária lista de apelidos apresentada aos procuradores da Lava Jato, o diretor de propinas não seria outro senão o próprio: Cuco! Cuco!