Humor na Guerra foi o tema do 32.º Salão Internacional de Humor de Barcelona, mostra que acaba de ser encerrada, com 32 mil metros dedicados aos cartuns, charges e quadrinhos sobre o Barão Vermelho, Ivanhoé, as guerras da Birmânia, Coreia e Vietnã, a Guerra Civil Espanhola, as duas Grandes Guerras Mundiais incluindo desenhos realizados nos campos de concentração.
Dentro de um cenário quase real de batalha, inclusive com barracas da Cruz Vermelha, o Salão de Humor de Barcelona só deixou de fazer uma homenagem póstuma ao Salão de Humor de Odessa, na Ucrânia, onde também foi sepultado o Yumorina, o festival de humor que desde 1973 era perseguido pelas autoridades soviéticas. Segundo conta Dmitri Shpnarev, o organizador, "este ano, depois das mortes de fevereiro passado, decidimos cancelar a festival, porque não estamos para piadas".
A escritora Martha Gellhorn (1908-1998) foi a maior correspondente de guerra do século 20 e não foram poucas as batalhas de onde enviou suas reportagens: começou em 1937, na Guerra Civil Espanhola, cobriu a Segunda Guerra Mundial e atravessou todas as seguintes, até entregar os pontos em 1992, com 84 anos, quando começou a Guerra da Bósnia. Nascida nos Estados Unidos, em 1937 procurou as autoridades francesas para conseguir um visto para entrar na Espanha em guerra contra o fascismo. Assim que entrou na Espanha, com 50 dólares e muita coragem, grudou nos correspondentes de guerra, quando um deles lhe sugeriu que escrevesse sobre Madrid: "E que interesse teria isso para alguém? perguntei. Era apenas vida cotidiana. Ele ressaltou que não era a vida cotidiana de todo mundo".
Excetuando a força aérea de Hitler, as alarmes antiaéreos, os obuses, as explosões e as balas perdidas, "por toda a Madrid, cada um tocava sua vida como se a rotina tivesse sido interrompida por um temporal e nada mais. Num café que fora atingido de manhã e onde três homens haviam morrido, os fregueses já estavam de volta à tarde sentados numa mesa enquanto tomavam café e liam o jornal matutino. No fim do dia, caminhavam em direção ao bar, a rua parecia uma terra de ninguém. Mesmo quando o silêncio era total, ouviam-se os obuses apitando no ar. Ainda assim o bar estava lotado como sempre".
"A guerra tornou-se um luxo hoje acessível apenas às nações pobres", dizia a escritora Hanna Arendt. Ao que podemos acrescentar que a guerra, nos dias de hoje, já faz parte do cotidiano de qualquer grande cidade, de ricas ou pobres nações, como estamos vendo na Ucrânia e arredores. O cotidiano de Madrid poderia ser o cotidiano de Odessa, do Rio de Janeiro ou de Curitiba. A guerra do cotidiano está tão banalizada que no fim do dia, com a mídia jorrando sangue, ainda vamos ao bar para contar as últimas piadas do Lula.
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