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Dante Mendonça

Jaguara, o animador de velórios dos Campos Gerais

Um grande personagem das bandas de São Luís do Purunã, Palmeira, Lapa, São João do Triunfo, União da Vitória, Palmas e Guarapuava é o animador de velórios dos Campos Gerais, também conhecido pela alcunha de Jaguara.

O que faz um animador de velórios? Ora, anima velórios contando histórias como a da Viúva Virgem, causo que teria ocorrido nos idos de 1928, em São José dos Pinhais. Ipsis litteris ao que está nos livros, é o que se passou com dois compadres que, assim como o Jaguara, não perdiam guardamentos. Certo dia faleceu uma moça de idade (balzaquiana, digamos), muito séria e moralista. Durante o velório, um dos compadres cochichou com o outro: "Será que era virgem mesmo?" Por volta da meia-noite o engraçadinho, acometido por uma dor de barriga, foi se aliviar num capão próximo. Quando voltava naquela escuridão, embaixo de uma parreira de uva, viu a noiva toda de branco, apontando para ele: "Você ainda duvida de mim?" Assustado, o espaventado pegou o amigo pelo braço e picaram a mula: "Compadre, não se fala de corda em velório de enforcado!"

Por muito famosa, a lenda da Loura Fantasma perdeu a graça, desconversa o Jaguara quando vem animar velórios em Curitiba. Melhor é aquela dos jovens arruaceiros que numa noite de lua cheia, depois de muitos goles, resolveram apostar quem juntava mais cruzes no cemitério do Santa Cândida. Todos saíram à cata, quando um deles senta-se sobre um túmulo para descansar e repara numa bela garota ao seu lado. Ela o desafia a roubar uma cruz naquela noite, a sua própria, e entrega-lhe uma rosa, que ele guarda no bolso. Ao reencontrar os amigos para a contagem das cruzes, o rapaz revela o sucedido. Com o pé atrás, o grupo volta ao local e, para surpresa de todos, não encontra nenhuma lápide e nenhuma cruz. Mas, quando o rapaz enfia a mão no bolso para se certificar de que não estaria sonhando, a terrível surpresa: a rosa havia se transformado em um pedaço de osso humano.

Com narrativas assim é que o animador de velórios ganha a vida nos Campos Gerais. Por essas e outras é que o Jaguara acha que o Zé Dirceu, com seus companheiros amestrados, vai acabar em lenda. A lenda da Mula-Sem-Cabeça. Como se sabe, existem várias versões dessa lenda. Em algumas paragens contam que a Mula-Sem-Cabeça surge no momento em que uma mulher namora ou casa com um padre. Como castigo pelo pecado cometido, perde a cabeça e transforma-se num ser monstruoso. Em outras regiões, contam que, se uma mulher perde a virgindade antes do casamento, pode se transformar em Mula-Sem-Cabeça. No caso do Zé Dirceu, ao ocultar uma feição por demais conhecida, é uma lenda que vai vagar pela história como uma Mula-Sem-Cabeça, garante o animador de velórios dos Campos Gerais.

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