Até quando vão abusar da nossa paciência? – eis a ladainha de todo carnaval. Passada a folia, há séculos os retirantes do Litoral se queixam ao bispo na Quarta-Feira de Cinzas: Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?

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Ouvimos as Catilinárias (ladainhas) de Cícero desde o berço do Paraná. Desde quando a nossa baía se chamava Pernaguá, o poder público é uma das maiores pestes a flagelar o Litoral, conforme escreveu em 1850 o historiador Antônio Vieira dos Santos: "Além das diversas enfermidades endemicas de febres desynterias e outras diversas emanádas pela corruptibilidade atmosfherica, da grande immensidade de exhalações putridas d’agoas estagnádas que as grandes espárgem, nas quaes se accûmularão infinitas folhas dos mangáis; e outras arvôres, côrpos de insectos, aves e peixes mortos, que nellas apoddreçem, e adjunto ao lodo fetido, que exhála esse tijuco nas margém das praias da çidade".

Estão nos escritos de Antônio Vieira dos Santos (1784-1854) as primeiras Catilinárias paranaenses, prova de que o Litoral é achacado pelos piratas dos cofres públicos desde 1648, quando Paranaguá foi enobrecida com o título de Capitania.

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"Quão formosíssima" não ficaria a orla com homens de boa vontade no comando, reclamava Vieira dos Santos da falta de árvores nos passeios de Paranaguá. Uma alameda não só para o "formozeamento da Çidade" como para o descanso dos "Guardas Naçionaes" que, cansados do trabalho e expostos aos raios de sol ardente, não têm onde repousar alguns minutos à sombra de uma alameda, mesmo servindo para um delicioso passeio para as senhoras e senhoritas e suas famílias: "Pois que antigamente ja houve hua grande alamêda, plantadas de larangeiras que são tão uteis erão á seus habitantes, mandadas plantar pelo grande militar que então governava, o Sarg. mór Francisco Jozé Monteiro e que servia de grande refrigeiro ás tropas milicianas, mas no anno de 1800 e 1801 a Camara timidamente as mandou derrûbar, commetendo um absurdo tão contrario à saude publica, temerôza do despota Ouvidor João Baptista dos Guimarãens Peixoto, por ordem delle; somente porque essa alamêda impedia á vista do palaçio deste Bachá [paxá], que morava nas Cazas de sobrado proximas a Igreja de S. Benedicto".

Ontem como hoje, a autoridade de ocasião cumpria a rapinagem de sua parte, enquanto a falta de saneamento fazia das famílias pobres as mais prejudicadas. Naqueles antanhos não sabiam o que era "sensação térmica". Sabiam apenas "da grande immensidade de exhalações putridas d’agoas estagnádas".

Para findar a Catilinária, Vieira dos Santos lamentava as condições do estado, apesar de sua privilegiada geografia: "Onde não se sente os ardéntes calores da Sicilia, Africa e Persia, nem os geládos frios da Lapônia, Russia e Noruega, mostra estar a sua boa pozição collocada, em hum ponto feliz".

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