| Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Caso Ana Carolina Oleksy não seja traída por São Pedro, o futuro prefeito de Curitiba será eleito pela nossa Moça do Tempo: “35 graus em Foz do Iguaçu – dirá Carolina ao Fernando Parracho –, cinco graus em Palmas, 30 graus em Londrina, 21 graus em Curitiba e, para quem desce ao Litoral, a previsão é de votos nulos, brancos e bronzeados!”

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“Se der, eu desço!” – era o título do prefácio que o publicitário Sérgio Mercer escreveu em 1989 para o terceiro número das Edições LeitEquentE, Cidade sem Mar, de Manoel Carlos Karam: “Vai descer no fim de semana? Curitibano não vai à praia; curitibano desce. O verbo descer, aí, tem importância fundamental. Você desce de gravata, a madame desce de salto alto, desce do carro para subir no buggy, desce uísque e caipirinha goela abaixo, desce engradados de cerveja, desce o calção para fazer xixi no mar, desce a autocrítica, desce a lenha no governo, desce a libido com a patroa, desce o saldo médio... (...) E não adianta fugir para as praias de Santa Catarina ou do Nordeste. Sempre haverá alguém murmurando às suas costas: ‘É de Curitiba!’”.

As Edições LeitEquentE foram uma das melhores publicações da história da Fundação Cultural de Curitiba

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As Edições LeitEquentE foram uma das melhores publicações da história da Fundação Cultural de Curitiba, com o selo da Casa da Memória. Se não a melhor. Uma preciosidade, alcançou dez números e são edições tão caprichadas que, se caírem nas mãos de leitores em Alhures do Sul ou Paris, pela inteligência vão reconhecer a origem: “É de Curitiba!”.

O tempo passa, o tempo voa – dizia o velho refrão do Banco Bamerindus, com quem Sérgio Mercer também deixou saudades – e depois de cinco eleições para prefeito o curitibano pergunta ao outro: “Vai votar ou vai descer?” “Vou descer!” – responde o eleitor, insatisfeito com as opções que lhe restaram para o sufrágio obrigatório.

Dizem os adeptos de Ney Leprevost que o prefeito Gustavo Fruet transferiu a data do feriado do Dia do Servidor desta sexta-feira para a próxima segunda, com ponto facultativo na terça, véspera do feriado de Finados, para incentivar os curitibanos a andar de bicicleta no Litoral. Com quase toda a certeza a intenção foi outra, contrapõem os seguidores de Rafael Greca, assegurando que Gustavo foi levado pelo desejo de Márcia Fruet levar seus cachorrinhos para um banho de mar na Ilha do Mel. Assim ou assado, não há a menor dúvida de que, neste feriadão prolongado na “Cidade sem Mar”, mais uma vez a imaginação de Manoel Carlos Karam vai descer a serra:

“Se o cidadão em Matinhos está tomando banho de mar com sabonete e toalha, sempre aparece alguém dizendo: ‘É de Curitiba!’”. “Se a madame recebe as amigas à beira do mar em Caiobá com a criadagem uniformizada: ‘É de Curitiba!’”. “Um homem debaixo do guarda-sol em Pontal do Sul tomando chimarrão: ‘É gaúcho de Curitiba!’”. “Um senhor cortando o ralo cabelo numa barbearia de Guaratuba enquanto lê o Diário Oficial: ‘É de Curitiba!’”. “O sujeito senta sozinho no bar com vista para o mar de Matinhos, pede meia dúzia de Brahma e passa o dia bebendo e cantando Trem das Onze: ‘É de Curitiba!’”. “E se abordar a garota que leva um cachorrinho pela coleira pedindo o número do telefone do cachorrinho: ‘É de Curitiba!’”.

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Dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade: “O voto obrigatório estendido ao analfabeto anuncia o analfabetismo obrigatório”. Com a consciência republicana de quem tem um teto à beira-mar, neste feriadão os nulos, brancos e bronzeados vão instituir por conta própria o voto facultativo, mal disfarçando o sotaque que lhes denuncia o domicílio eleitoral de onde desceram: “São de Curitiba!”.