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O futuro a Deus pertence, mas pelo visto até Ele está em dúvida quanto ao futuro político do governador Beto Richa. Talvez no final dos seus quatro anos de mandato aconteça com ele o que aconteceu a Cosme I de Médici (1519-1574), um dos mais sábios homens de sua época, que depois de encerrado na torre do Palazzo Vecchio, passou quatro dias sem comer com medo de ser envenenado por seus inimigos.

Beto Richa não deve abraçar os amigos. Melhor seria o abraço do carcereiro

O que aconteceu com o Grão-duque da Toscana acontece a quase todos os ungidos ao poder: no primeiro degrau do trono, recebem leis; no último, são eles que as impõem. Conforme conta o escritor Alexandre Dumas na sua fascinante memória de viagem de 1834, em Um ano em Florença (Clube do Livro, edição de 1952), “Cosme tinha todos os vícios que tornam sombria a vida privada, e todas as virtudes que tornam a vida pública brilhante” – como tantos que conhecemos.

Naquela conturbada Firenze, Machiavelli dizia que muitos queriam que Cosme fosse exilado; mas muitos queriam também que o matassem, enquanto o restante se calava por medo ou compaixão. Enquanto não se decidia o que fazer com ele, o senhor do Palazzo Vecchio foi trancafiado na Torre di Arnolfo e sua guarda confiada ao carcereiro. Sentindo o ânimo de Florença do alto, o Grão-duque ouvia o barulho das armas que vinham da Piazza Della Signoria. No toque interminável do campanário, receava que o matassem publicamente, ou ainda que o abatessem na sombra – como ainda é método palaciano. Por isso, detendo-se principalmente nesta última suspeita, o desafortunado Médici passou quatro dias sem tomar qualquer alimento, a não ser um pedaço de pão que havia levado consigo.

Percebendo os receios do prisioneiro ao recusar o jantar pelo quarto dia seguido, o carcereiro aproximou-se do prisioneiro e, com o olhar desolado, disse com tristeza: “Duvidas de mim, Cosme? Com medo de ser envenenado estás perecendo de fome? Assim, me ofendes. Acreditas que eu vou me prestar a tamanha infâmia? Não serei eu a tirar a tua vida nesta masmorra. Não seria com o teu sangue que avermelharia minhas mãos. Nunca me fizestes a menor ofensa. Fica tranquilo! Come e te conserva vivo para os amigos e para a pátria. Se não acreditas, peço a honra de sentar à tua mesa. Eu comerei de tudo, antes de ti”.

Ouvindo estas palavras – conta Alexandre Dumas –, o Grão-duque de Florença sentiu-se reconfortado e, atirando-se aos prantos ao pescoço do carcereiro, jurou reconhecimento eterno, com a promessa de uma grande recompensa caso a sorte lhe voltasse. Cosme se recordou da promessa, feita na torre do Palazzo Vecchio ao carcereiro que se chamava Federico Malavolti.

Encastelado no Palácio Iguaçu, caso a fortuna não o proteja nos próximos quatro anos, Beto Richa não deve abraçar os amigos. Melhor seria o abraço do carcereiro.

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