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Dante Mendonça

O caixa dois de Jayme Canet

Na gênese do dízimo político, quando o caixa dois era tão inocente quanto o colchão de casa, as doações eleitorais chegavam em malas de couro de crocodilo cheias de dólares. Como os comitês de campanha eram instalados em casas e casarões no bairro chique do Batel, os tesoureiros de campanha trabalhavam de costas para os armários de imbuia abarrotados de sinceras contribuições. Os dólares eram empilhados como latas de sardinha e as verdinhas, distribuídas aos fornecedores em sacos de supermercado, como era rotina na campanha do banqueiro José Eduardo Vieira.

Em 1982, a vitória de José Richa para governador foi uma das mais prestigiadas pelos fundos não contabilizados. E a tesouraria do comitê central de campanha não se tornou um lupanário – como era normal – porque todos os recursos passavam pela mão de um homem com o nome a zelar: Jayme Canet Júnior.

Nunca na história das campanhas eleitorais no Paraná as sobras de campanha foram tão bem aplicadas

À frente de dois momentos dramáticos para o Paraná – a geada negra de 75, que dizimou a cafeicultura; e a forte seca de 78, que frustrou a safra e impôs imensos custos econômicos e sociais, além de ter provocado o maior êxodo rural da nossa história –, Canet não iria queimar também a sua biografia numa fogueira de dólares.

Com a eleição praticamente garantida, Zé Richa era o Emerson Fittipaldi da época concorrendo com o Felipe Massa de hoje. Tendo como oponente o ex-prefeito Saul Raiz – cujo mote de campanha atribuía aos adversários um futuro “salto no escuro” –, o pai do Beto Richa nadava de braçada nas pesquisas eleitorais. E a cada nova pesquisa mais simpatizantes de alto bordo batiam na porta do PMDB velho de guerra para emprestar solidariedade à redemocratização do país e do Paraná. Canet, a quem todos temiam e respeitavam, já nem mais atendia tantas almas caridosas.

Abertas as urnas, confirmados os resultados, contabilizadas despesas e receitas, começou a “corrida do ouro” dentro do partido quando se espalhou a notícia de que, na falta de armários para guardar as pilhas de dólares, não se sabia o que fazer com as sobras de campanha.

Contava o professor Belmiro Valverde Castor que, de tão assediado para pagar as contas imaginárias de notórios e respeitáveis membros do partido, Jayme Canet chamou um assessor e mandou ver: “Tem um casarão à venda ali na Rua Vicente Machado, 988. Vai lá e fecha o negócio à vista!”

Na semana seguinte o PMDB velho de guerra ganhou uma sede própria. Com papel passado em cartório, graças ao cofre que estava sob a guarda de Canet. Nunca na história das campanhas eleitorais no Paraná as sobras de campanha foram tão bem aplicadas.

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Se existe alguém que, mesmo de longe, deve tirar o chapéu em respeito a Jayme Canet Júnior é este cronista. Em meus tempos de chargista, cansei de caricaturar o então governador nas páginas do extinto jornal O Estado do Paraná, onde a coluna “Chumbo Grosso” tratava de alimentar as desavenças políticas de sempre. Hoje no lixo-que-não-é-lixo da história, aquelas picuinhas provincianas também se passavam como ataques ao preposto da ditadura. O casmurro Jayme Canet foi um grande governador – ou não seria o grande amigo de Belmiro Castor Valverde e Adherbal Fortes de Sá Júnior – e nós outros fomos vítimas do mais cego maniqueísmo, assim como hoje.

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