• Carregando...

Às vésperas do fim de ano, duas fontes precisam ser consultadas para viajar sem maiores sustos: o saldo bancário e o serviço de meteorologia. Este o mais importante, sem dúvida: se tempo é dinheiro, não há dinheiro que compre a garantia de bom tempo.

Mesmo com esse El Niño maluquinho, hoje é relativamente confiável fazer as malas e botar o pé na estrada. Além das dicas de Ana Carolina Oleksy, a nossa Moça do Tempo, maré baixa, maré alta, vento sul ou a boreste, está tudo na internet.

Mas houve um tempo em que o tempo em Curitiba só dependia de um homem: Oswaldo Iwamoto. O homem-satélite. No século passado, o japonês era o oráculo do tempo no Paraná. No dia 11 de dezembro de 1975, digamos, todos os jornalistas batiam na porta do meteorologista: “Professor Iwamoto – perguntava o repórter do Show de Jornal –, teremos sol neste fim de semana?”

E entrava o Iwamoto no ar, tendo ao fundo uma cerquinha branca, a casinha e a antena de um posto meteorológico: “Segundo notícias vindas da Argentina [naquele tempo os deslocamentos atmosféricos eram acompanhados via rádio, telegrama ou sinais de fumaça], uma frente fria vai cruzar a fronteira em direção ao Paraná”. Os telespectadores ficavam em suspense: “Com isso, vai ou não vai chover em Guaratuba, Caiobá e Matinhos?” Iwamoto balançava a cabeça pra baixo e pra cima: “Garantido, tempo bom com leves pancadas no final do período!”.

Saudades do tempo do Iwamoto. Eram tempos bem mais tolerantes

“Oba!”, sorria a apresentadora Laís Mann, para, em seguida, Jamur Júnior fazer uma careta perante as câmeras do Canal 4: “Laís, não vou sair de casa nesse feriadão. E, se sair, de guarda-chuva e galocha!”

As previsões meteorológicas do Iwamoto eram controvertidas. Metade da cidade acreditava piamente no nosso homem-satélite – sabe-se lá por que trombas d’água? –, outra metade tinha absoluta convicção de que o professor adivinhava o tempo molhando o dedo indicador na língua para, em seguida, apontá-lo para o céu e provar o sabor do vento.

Com seus prós e contras, é preciso dizer que todo repórter tinha de ter o telefone do homem-satélite na agenda. Assim como para assuntos de safra agrícola quem falava era Eugênio Stefanello, com o seu sotaque “ítaloeclesiásticogauchesco”; trânsito era com o arquiteto Marcos Prado; para assuntos trabalhistas, o general Adalberto Massa; abastecimento de carne, Luiz Carlos Setim; história era com o professor David Carneiro; e quem entendia de cinema era o Zito Alves, gerente do Cine Lido. Sem esquecer do “Frangovo”, o veterinário Laércio Cardoso, produtor que vivia no noticiário para reivindicar frango e ovo na merenda escolar.

Saudades do tempo do Iwamoto. Eram tempos bem mais tolerantes. Chovesse ou fizesse sol, paciência! Importante era apostar na previsão do homem-satélite, e ganhar ou perder uma cerveja na volta do feriadão.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]