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“O alto preço que Paranaguá está pagando pela dengue é o quanto custa a baixa autoestima da cidade!”, comenta o pirata Bolorôt, enquanto passa protetor solar em uma das sereias da Ilha da Cotinga.

Corsário da melhor tradição corsária, Bolorôt conhece Paranaguá como ninguém. Do alto dos seus 350 anos de vida, com o seu inseparável papagaio-do-peito-roxo no ombro (afinal, ele também tem aquilo roxo), o pirata é um assombro em carne e osso. Quando um navio encalha no Canal da Galheta, as causas são misteriosas. Alguns dizem que foi o vento sul, outros afirmam que um prático levou o navio para o brejo. O que os parnanguaras não admitem – e quem admite não revela – é que desde 1718 o lendário pirata ainda respira na Baía de Paranaguá.

O registro mais antigo do francês Carlos La Chené Bolorôt é do século 18, relatado pelo historiador paranaense Antônio Vieira dos Santos: “Em 1718 o temerário pirata francês Bolorôt teve a imprudência de fazer seu ingresso rapinoso, atrás do galeão espanhol que vinha do Chile, carregado de prata, invadindo essas águas do terreno onde a Protetora da Cidade dominava, causando seu aparecimento imprevisto, na ponta da Ilha de Cotinga, grande susto e terror aos paranaguenses indefesos. Eles prontamente recorreram à sua Padroeira e, cheios de confiança e devoção, a conduziram em triunfo, qual valorosa Judite, ao lugar da ribanceira; e prontamente, em defesa de seus filhos, foi castigada tal ousadia, por meio de um repentino furacão furioso que fez levar o navio desses piratas contra um cachopo de rochedo, que tem à flor d’água, na Ilha da Cotinga, onde foi submergido nos profundos abismos, com o chefe pirata e seus cúmplices. Vitória que os paranaguenses alcançaram pela intercessão de Maria no dia 9 de março do mesmo ano de 1718, ficando desde então eternizado o nome daquele rochedo, como memória perpétua de tal acontecimento”.

Os espíritos do mal atribuem a Bolorôt todas as desgraças do Litoral do Paraná

No porto francês de Honfleur, de onde partiam as naus, ainda hoje é lembrada a lenda do galeão que, ao se proteger de um furacão, bateu contra um rochedo na Ilha da Cotinga, nas proximidades de uma vila de pescadores chamada Paranaguá. Morreram todos os marujos, menos o capitão Carlos La Chené Bolorôt. Como o galeão transportava um tesouro muito valioso, e sem meios de prosseguir viagem, Bolorôt teve de escondê-lo numa gruta na Ilha da Cotinga. Para saber a localização exata da gruta, o pirata desenhou um galo na entrada. Depois partiu a pé, à procura de um novo barco para resgatar o seu tesouro. Mas o furacão aumentou e o mar, embravecido, acabou por tapar a entrada da gruta com areia e pedras. Após muito tempo se arrastando pelas praias de Santa Catarina, Bolorôt, quando regressou de Florianópolis para buscar o tesouro, não conseguiu encontrar a gruta que tinha à entrada o desenho de um galo, símbolo nacional da França.

Conta a lenda, no seu fecho, que o pirata Bolorôt continua até os dias de hoje a guardar pacificamente o precioso tesouro da Ilha da Cotinga. No entanto, para não desmerecer a sua tradição corsária, os espíritos do mal atribuem a ele todas as desgraças do Litoral do Paraná: o arrombamento dos cofres públicos, a rapina no Porto de Paranaguá, assaltos aos incrédulos turistas, saques nas casas de veraneio e até mesmo o assoreamento do Canal da Galheta.

“Os grandes corsários do Litoral vêm da capital! Com carta branca dos maiorais, aqui costumam aportar corruptos, ladrões, achacadores, contrabandistas, toda espécie de vigaristas que deixam a autoestima de Paranaguá assim em baixa!”, defende-se Carlos La Chené Bolorôt.

“Se o governo tivesse mais respeito com o Berço da Civilização Paranaense, ‘Mosquitinho’ seria uma palavra restrita ao nome da folclórica zona de prostituição da cidade!”, arremata o pirata, no seu cuidado de também passar repelente nas sereias da Ilha da Cotinga.

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