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Se inveja mata, enterrem nossos corações na antiga fábrica da cerveja Original, em Ponta Grossa. Assistindo de longe à fuzarca nas festas de outubro em Santa Catarina, é de se perguntar: “O que será que Blumenau tem que Curitiba não tem?” A resposta está no destino que deram aos imigrantes alemães que chegaram ao Brasil.

A primeira colônia alemã foi no Rio Grande do Sul, em 1824. Em seguida, Santa Catarina, em 1828, sendo que Joinville e Blumenau foram fundadas respectivamente em 1851 e 1850. No Paraná, o fluxo migratório começou por Rio Negro, em 1829, reforçado com os muitos alemães de Joinville que se transferiram para Curitiba.

Reunidos em agremiações fechadas para preservar a cultura e as tradições germânicas, fundaram no Brasil Meridional algumas das cidades mais desenvolvidas do Brasil, mas nenhuma delas tão festiva quanto Blumenau. Se a origem, a língua e a cultura são as mesmas, por que só em Blumenau a Oktoberfest germinou em terra fértil?

Com todo o respeito aos antropólogos, mas eles conhecem da história apenas o que está nos livros. Existe uma explicação pouco conhecida para a vocação festiva de Blumenau. E, por extensão, a razão pela qual Curitiba não é afeita aos costumes de Munique, muito menos ao carnaval.

Existe uma explicação pouco conhecida para a vocação festiva de Blumenau

O culpado seria o chefe do serviço de imigração, um português que separava os imigrantes conforme a profissão e os bons costumes. Quando os imigrantes desembarcavam dos navios, o portuga interrogava um por um e, respeitando seus próprios critérios, carimbava o destino dos recém-chegados.

No Porto de São Francisco do Sul, sob o sol tropical, a fila de imigrantes no cais era grande; com sombra e água fresca, o portuga interrogava: “Profissão?” “Engenheiro!” “Pode escolher: Joinville, Rio Negro ou Curitiba?” O alemão assinalava o destino, o português sinistro carimbava o documento e chamava o seguinte: “Profissão?” “Músico!” “Vai pra Blumenau!”

E vinha outro: “Profissão?” “Professor de Matemática!” “Pode escolher: Joinville, Rio Negro ou Curitiba?” O seguinte: “Profissão?” “Cervejeiro!” “Vai pra Blumenau!”

Esse era o critério: ferreiros, pedreiros, mecânicos, marceneiros, engenheiros, alfaiates, costureiras, padres e pastores, professores ou qualquer outra profissão mais “respeitável” tinham como opção Joinville, Rio Negro ou Curitiba. O resto, o rebotalho, todos eram recolhidos para Blumenau: gaiteiros, garçons, maestros, atrizes, poetas, jornalistas, dançarinas, malandros e as damas de vida airosa também.

As únicas duas profissões com a opção de assinalar qualquer dos destinos, por uma questão de sobrevivência da colônia, eram os padeiros, confeiteiros e cozinheiros. Consta, porém, que a maioria deles preferiu acompanhar os alegres companheiros destinados ao Vale do Itajaí.

Se Richard Wagner, o maestro e compositor, tivesse emigrado para o Brasil, seria destinado a Blumenau. Ferdinand Porsche, o inventor do Fusca, seguiria para Curitiba.

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