Babacas existem de várias laias. O principal deles foi catalogado pelo cronista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta: “Diz que era um menino de uma precocidade extraordinária e vai daí a gente percebe logo que o menino era um chato, pois não existe nada mais chato que menino precoce e velho assanhado. Todos devemos viver as épocas condizentes com as nossas idades; do contrário, enchemos o próximo”. Ou seja, o Lalau – como Stanislaw era tratado na intimidade pelas “Certinhas do Lalau” – quis dizer que guri precoce e velho assanhado surgem da mesma cepa de babacas.
Ninguém quer ser um babaca, mas a verdade é que o mundo está cheio deles, ensina Meghan Doherty no livro Como não ser um babaca, o vade-mécum da babaquice. Para o parecer do professor de Filosofia da Universidade da Califórnia Eric Schwizgebel, que escreveu um tratado sobre os jerks (termo em inglês que define os babacas/idiotas), talvez você seja um babaca e não saiba disso. Sem intenção de ofensa, nós outros somos uns babacas e não sabíamos.
Guri precoce e velho assanhado surgem da mesma cepa de babacas
Conforme os estudiosos, o babaca é a pessoa que sabe mais do aprendeu, cuja língua é maior que a inteligência. Como dizia Millôr Fernandes, “em certas pessoas a boca é o órgão excretor do cérebro”. Não consegue se colocar no lugar da outra e trata os outros como objetos a serem manipulados. Para o babaca, as outras pessoas têm valor inferior: “O garçom no restaurante não é uma pessoa que desperta interesse [no babaca], que tem uma história de vida que pode ser interessante. É só uma ferramenta segurando seu prato ou um tolo no qual se pode descontar a raiva”, diz Meghan Doherty.
As pessoas abaixo do babaca na hierarquia social, ela pensa, não têm talento como o seu e por isso merecem trabalhos inferiores. Você sempre acha que está cercado de gente idiota? Tem muita gente à sua volta que não merece sua atenção? Eu sou eu, o resto é bosta? Eis aí o babaca!
Para catalogar outras espécies de babacas, podemos fazer alguns testes entre amigos: num almoço em grupo, por exemplo, quem é o babaca? É quando um dos convidados senta-se numa das pontas da mesa e o babaca não demora a se manifestar: “Quem senta na ponta da mesa paga a conta!” – é o babaca! O colega chega mais tarde no trabalho porque resolve almoçar em casa. Quando passa um carro da polícia, o babaca alerta o amigo ao lado: “Se esconda!” – é o babaca! O camarada passa no shopping e estreia na firma uma blusa incrementada: “Na loja onde você comprou essa blusa também tem pra homem?” – pergunta o babaca. Fim de ano, a firma se reúne para o jantar anual. Reveladas as fotografias, aparece um coitado com o famoso chifre na cabeça. Adivinha quem é dono dos dois dedos feitos chifrinhos? É o babaca! O babaca no masculino, é claro, porque no feminino o dicionário nos diz que essa é uma das palavras mais feias, e inadequadas, da língua portuguesa.
A etimologia agora não vem ao caso. O que importa ao assunto em tela (essa expressão “em tela” é bem coisa de babaca) é que o governador Beto Richa, no dia seguinte à vitória de Rafael Greca, anunciou a volta da Rede Integrada de Transportes (RIT) e do subsídio ao transporte público da capital. Isso depois de a população da Região Metropolitana de Curitiba fazer o papel de babaca nas desavenças políticas entre Gustavo Fruet e Beto Richa.
Diante de tantas laias da babaquice, só nos resta perguntar se o governador Beto Richa seria o babaca de Stanislaw Ponte Preta – o menino precoce ou o velho assanhado? Nem uma coisa nem outra: nós outros é que somos os babacas de sempre.