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Curitiba era conhecida como Cidade Sorriso, um epíteto cunhado pelo poeta, jornalista e caricaturista sergipano Hermes Fontes, que publicou uma crônica sob este título em 25 de fevereiro de 1929, aqui na Gazeta do Povo. Mas, como muitos achavam que o sorriso não combinava com a feição dos moradores, até hoje tentam corrigir a natureza da cidade.

Vem daí o lugar-comum de que o curitibano não cumprimenta ninguém, nem mesmo o vizinho. No máximo com um oi, um olá. O sonoro tudo bem?, só mesmo se o vizinho estiver na porta da cadeia. Curitiba – como escreveu o escritor Gay Talese sobre Nova York – seria uma cidade de vizinhanças em que as pessoas não têm vizinhos?

A propósito da pesquisa publicada domingo passado nesta Gazeta do Povo – dando conta de que o humor do curitibano continua o mesmo –, são muitos os clichês usados para estampar o Homo curitibanus. Na maioria genéricos, serviriam também aos parisienses, londrinos, cariocas, paulistanos e aos belo-horizontinos. Como estes chavões, contando que curitibano convida todos para uma visitinha – “Passa lá em casa!” –, mas nunca fornece o endereço. Muito menos marca o dia e o horário. A mesma coisa acontece quando se ouve o trivial “Me telefona!”, ou então “Apareça para tomar um cafezinho!” Isso já se dizia do carioca desde a chegada da família real portuguesa.

Curitiba – como escreveu o escritor Gay Talese sobre Nova York – seria uma cidade de vizinhanças em que as pessoas não têm vizinhos?

Para desmontar a tese de que só o curitibano não gosta de receber visitas, o cronista político Carlos Castello Branco contava que, por ter nascido no Piauí, ao longo de quatro décadas em Belo Horizonte precisou enfrentar a esquivança e a ironia daqueles que o recebiam com benevolência, mas com certa reserva: “Não é fácil ser mineiro e mais difícil ainda é obter o consentimento de Minas para que sejamos mineiros”.

Na biografia escrita pelo jornalista Carlos Marchi – Todo aquele imenso mar de liberdade –, Castelinho confessa sua maior mágoa: “Vivendo em Belo Horizonte dos 16 aos 24 anos e meio – talvez quem sabe pela minha excessiva devoção ao trabalho –, não tive oportunidade de entrar numa casa de família mineira. Lembro-me de que, nas minhas caminhadas, certo fim de tarde passei pela casa do que se tornaria o meu mais querido amigo, Otto Lara Resende. Era na Rua das Alagoas. Do alto da sua janela e eu na rua, conversamos e não acudiu ao Otto que com um gesto me faria transpor a porta e ingressar na sua casa”.

Curitiba e Belo Horizonte se parecem? Nem tanto. Aqui a visitação requer certos protocolos: para receber visitas, o curitibano costuma marcar com antecedência mínima de três dias. Se for urgente, dois dias. Em contrapartida, não se preocupe: sob hipótese alguma ele vai tirá-lo do sofá numa tarde de domingo, no meio de uma partida de futebol, para uma visita surpresa. Para visitar alguém, mesmo o amigo do peito, a regra é curitibaníssima: combine antes!

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