Catarinauta, tenho Cidadania Honorária do Paraná. De Curitiba sou diplomado pela Câmara Municipal, com o título comprobatório assinado por minha mulher, jornalista Maí Nascimento, orientadora da tese em que defendo que Curitiba é bem menor do que imaginam os neocuritibanos desavisados.
Da minha janela, Curitiba limita-se com cinco bairros: Mercês, Rebouças, Batel, Juvevê e Bigorrilho. Moro no Centro, na Rua Augusto Stellfeld, a uma quadra da Rua dos Chorões. No meu particular perímetro urbano, além de R$ 20 no taxímetro, Curitiba não é mais Curitiba. Uma cidade de mentira, segundo muitos, porque quem chega a qualquer parte da periferia vai ver que não é uma cidade europeia.
Além dali, a minha Curitiba ao norte faz divisa com São Paulo, a leste cai no mar, a oeste é Ponta Grossa e ao sul é Santa Catarina.
Os adventícios estão começando a perceber que o curitibano, frio, ensimesmado e taciturno, tem humor peculiar e de acento próprio
Dentro da minha circunscrição, que tem um raio de R$ 20 no taxímetro, hibernam os curitibanos de tantas lendas. Uma gente fria, encasacada, não cumprimenta os vizinhos, não dá bom-dia de graça e cobra caro. Melátia era uma típica curitibana do Bigorrilho, telefonista do jornal onde eu trabalhava. Dizíamos ao chegar: “Bom dia, Melátia!” Ela respondia: “Bom dia por quê?”
Fora do meu minúsculo quadrilátero, os neocuritibanos. Aqueles que descobriram, bem tardiamente, que curitibano é econômico no gesto, não esbanja afetação. De tão compenetrado, esquece de dizer bom-dia. O afeto, encerra no peito. No entanto, alvíssaras, os adventícios estão começando a perceber que o curitibano, frio, ensimesmado e taciturno, tem humor peculiar e de acento próprio.
Quando aqui cheguei, as gracinhas eram referentes a apenas duas espécies: gaúchos e catarinas. Estes, especialmente, eram saudados com um sorriso sarcástico: “Sabe por que os catarinas, quando vêm morar em Curitiba, não cumprimentam mais os seus conterrâneos? Eles acreditam que na cidade grande ninguém se cumprimenta!”
Além da minha minimalista Curitiba, conheço pouco. Do que conheço, tenho boa lembrança do Boqueirão, caminho do ônibus que em 1969 me trouxe ao Paraná, vindo de Nova Trento (sou o verdadeiro milagre de Santa Paulina, dizem). Daí que o Boqueirão era paradeiro de “catarina cansado”. Se até ali chegava, ali ficava.
Esse quadrilátero que descortino da janela de meu estúdio ainda me parece a Curitiba dos anos 1970, dos curitibanos da cepa, com a casa bordada de lambrequins. Mais além, é a Curitiba redesenhada por uma nova legião estrangeira. Imigrantes que já não fabricam carroças em Santa Felicidade. Fabricam automóveis em São José dos Pinhais, bem pra lá do Boqueirão. São eles franceses, alemães, paulistas, mineiros, gaúchos, baianos, paranaenses de Braganey, de Lupionópolis e até de Paranapoema, um mundo de gente arribando para bem além dos R$ 20 no taxímetro.
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