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 | Brunno Covello / Gazeta do Povo
| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Espiadinha básica

Sim, os curitibanos estão curiosos para ver as obras da Arena da Baixa prontas – temendo outro carão diante dos sumos sacerdotes da Fifa. Mas há uma tensão extra no entorno do estádio: quer-se saber qual será o novo desenho da Praça Afonso Botelho, a chamada "Praça do Atlético". Um dos tapumes que escondem a praça foi retirado (foto) e é possível ver a concha acústica restaurada – reza a lenda que o lugar nunca foi usado de fato como teatro, ainda que tenha até camarins. Parte da área antes gramada virou uma espécie de pátio. De resto, tudo parece como os quarteirões em volta da Arena: cara de reforma chegando ao final, mas nunca chegando de fato.

No mês passado, a coluna lembrou a importância histórica do Vagão do Armistício, apelido da cantina que a família do artista Poty Lazzarotto manteve em Curitiba de 1937 até 1960, atrás do Cartório do Cajuru. Depois da publicação, recebemos a cópia de uma antiga carta, escrita por Aristides Largura, que ajuda a explicar o nome pelo qual o restaurante ficou conhecido. Segundo o documento, em 1939 o local tornou-se ponto de encontro de um grupo que às quartas-feiras disputava partidas de "boccia" num galpão aos fundos. Havia descendentes de italianos, franceses, poloneses, alemães, portugueses e árabes. Num dado momento, o mundo foi surpreendido pelo anúncio da Segunda Guerra e posteriormente da derrota da França para alemães e italianos, sendo sua rendição assinada no mesmo vagão onde, em 1918, fora firmado o tratado de paz que colocou fim à Primeira Guerra e ficou conhecido como Vagão do Armistício. A notícia acalorou os ânimos, com a possibilidade de um eminente conflito. Foi neste momento que Largura se levantou e disse "Os conflitos lá de fora não devem perturbar nossas boas relações; façamos deste local o nosso Vagão do Armistício."

História

A relação dos moradores com a praça é digna de estudo. No final dos anos 1960, a "Afonso Botelho" era um grande banhado, que recebia as águas do Rio Água Verde canalizado. Tinha barro. Só não era mais abandonada porque a gurizada brincava de descer do "morro" da Avenida Getúlio Vargas sentada em folhas de bananeira, na direção da Rua Engenheiro Rebouças. Foi nos anos Lerner que a praça ganhou urbanização, mas custou a atrair público. Paulatinamente, as atividades esportivas, o posto policial, a pista de caminhada – e uma feira de automóveis antigos, aos domingos – tiraram o agouro do local.

Gente ressabiada

As notícias da reforma deixaram muita gente ressabiada. Temia-se que não sobrasse árvore para contar a história. A preocupação tem suas razões. Na última década, depois de anos patinando no esquecimento, a Praça do Atlético se tornou um espaço frequentado por gente de todas as idades. É uma vitória do bom urbanismo. Que assim permaneça.

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