Talvez uma das experiências mais interessantes da infância seja a descoberta dos ímãs. A atração e repulsão de dois corpos a distância, exercida pelo magnetismo, tem algo de mágico para crianças. Vira um brinquedo.
Foi esse mesmo fascínio que sentiu um garoto de cinco anos que, acamado para se recuperar de uma enfermidade, ganhou de seu pai um pequeno presente para se animar: uma bússola de bolso. O menino se chamava Albert Einstein e aquele objeto causou-lhe uma profunda impressão, a qual ele descreveu como “milagre”: o ponteiro, não importa a posição em que a bússola fosse colocada, sempre voltava a apontar para o norte.
Einstein resgatou a antiga concepção de que há um objetivo comum para ciência, arte e religião: a busca da verdade
Havia ali uma força que ele não podia ver e entender. Os olhos, afinal, não são tão confiáveis quanto se possa imaginar. Ou, como bem disse William Shakespeare, há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.
A fascinação que o magnetismo exerce sobre as crianças costuma se esvair com o tempo. Torna-se algo normal, corriqueiro. Para Einstein, contudo, ela foi mais duradoura. A misteriosa força magnética que atrai o ponteiro da bússola levou-o a intuir que, por trás das coisas e fenômenos, havia algo forçosamente escondido que escapava à percepção sensorial dos homens. Isso o motivou a se tornar cientista.
“A mais profunda emoção que podemos experimentar é inspirada pelo senso de mistério. Essa é a emoção fundamental que inspira a verdadeira arte e a verdadeira ciência”, escreveu anos mais tarde o já consagrado Einstein. Ele também considerava que essa busca do mistério era uma espécie de religião. “A existência de algo que nós não podemos penetrar, a percepção da mais profunda razão e da beleza mais radiante no mundo à nossa volta, que apenas em sua forma mais primitiva são acessíveis a nossas mentes – esse é o conhecimento e emoção que constituem a verdadeira religiosidade.”
Em sua visão bem particular, Einstein resgatou a antiga concepção de que há um objetivo comum para ciência, arte e religião: a busca da verdade que existe por trás das aparências. Essa identidade de motivação pode ser a base para um diálogo entre esses saberes, que muitas vezes parecem ser inconciliáveis na atualidade.
A busca dos mistérios também pode ser um norte para a descoberta pessoal de cada um, para transcender o cotidiano e ampliar o conhecimento. Pode servir como uma bússola a indicar uma direção em que seguir.
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