Quando a crise econômica in­­ternacional eclodiu, em setembro de 2008, os go­­vernos de todo o mundo tiveram de abrir os cofres para ta­­par os rombos provocados por in­­vestidores ávidos pelos lucros fá­­ceis de um sistema financeiro mal re­­gulado. Era o fim do neoliberalis­­mo. Se os mercados livres tinham le­­vado o mundo à beira de um co­­lap­­so e eram os governos que estavam salvando a economia, nada mais justo do que enterrar o velho modelo para adotar outro: o neoestatismo, marcado pelo Estado forte, empreendedor, provedor.

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Nem dois anos depois e a tese que nasceu em 2008 já está morta. En­­terrada por outra crise: a grega, que se espalhou por toda a Europa a ponto de afetar todo o planeta. Pois, enfim, a bancarrota da Grécia foi provocada justamente por ex­­ces­­so de Estado e não pela sua au­­sên­­cia. Os gastos públicos elevados do governo helênico conduziram a nação à beira do calote. Teve de ser salva pelos países-companheiros da União Europeia e pelo FMI. E, como contrapartida, está sendo obri­­gada a fazer duros cortes na área social.

Talvez os defensores ferrenhos do neoestatismo, tal qual os do neo­­liberalismo, pudessem ter evitado queimar a língua se olhassem pa­­ra a História. A partir de 1929, quando o mundo entrou na Gran­­de Depressão em grande medida devido ao liberalismo excessivo, o que tirou os países do buraco foi a intervenção estatal na economia.

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De remédio pontual para aquecer o consumo em períodos de crise, o Estado foi assumindo um pa­­pel cada vez maior. Além de garantir saúde, educação, segurança e in­­fraestrutura (papéis clássicos dos go­­vernos), passou a criar e a administrar empresas. Tam­­bém atendia às demandas sociais que lhe eram apresentadas. As aposentado­­rias generosas foram a marca desse período, sobretudo na Europa. Era o Estado do Bem-Estar Social.

Esse modelo entrou em crise na década de 70. Os gastos elevados para manter a estrutura estatal comprometiam a competitividade das nações, bem como a falta de empreendedorismo das pessoas – para muitos era mais vantajoso esperar que o governo provesse suas necessidades básicas do que se arriscar em investir em um empreendimento particular. A economia patinava.

Veio então a solução liberal, rebatizada de neoliberalismo: menos Estado na economia, mais liberdade para a iniciativa privada. O modelo durou até 2008, encerrado devido a erros de natureza semelhante aos que produziram a crise de 29.

Como a "solução" estatal para os percalços econômicos igualmente continha riscos, era de esperar que o novo estatismo também viesse a produzir crises. Só não seria possível prever que isso ocorreria tão rapidamente.

O drama da Grécia e a crise de 2008 nos forçam necessariamente a ter de trilhar o caminho do meio. Ou seja, a criar um modelo intermediário de Estado, que regule a iniciativa privada para controlar seus excessos, mas não a sufoque. Que provenha o básico para a população, mas não gaste excessivamente a ponto de comprometer as gerações futuras.

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Esse seria um bom tema para discussão na eleição presidencial deste ano. Que Estado queremos, afinal? Se não soubermos responder a essa pergunta, corremos o risco de pular de crise em crise.