Há circunstâncias em que a melhor estratégia para se tornar competitivo é criar um produto ou serviço pior que o do concorrente. A ideia pode parecer estranha, mas não é nova. Trata-se da chamada inovação de ruptura, tema que vem sendo desenvolvido pelo professor de Administração Clayton Christensen, da Harvard Business School, desde 1995. Grosso modo: novas empresas podem fazer coisas com menor custo e menor qualidade, a fim de conquistar consumidores que estão dispostos a usar serviços piores, desde que mais baratos daqueles prestados pelos líderes de mercado.
As inovações de ruptura podem criar, assim, mercados novos, ao mesmo tempo em que alteram a experiência dos consumidores no uso de produtos ou serviços.
Quando esse conceito é levado para o mercado das mídias sociais, a lógica das inovações de ruptura sofre uma pequena mutação. Ao invés de reduzir a qualidade dentro de um limite tolerável pelos consumidores, baixando custos, as inovações de ruptura acabam por criar na web aplicativos mais "incompletos", "mais defeituosos", ou "mais limitados" que os de seus potenciais concorrentes. A intenção, no mais das vezes, é propor ao internauta o uso de ferramentas que são mais simples do que aquelas dominantes do mercado das mídias sociais. Sempre há a expectativa que a nova ferramenta criada possa ter uma expansão de público "viral", conquistando usuários que usam outras plataformas.
Isso porque os concorrentes no mercado de mídias sociais on-line procuram viabilizar seus negócios com base em duas variáveis: o número de internautas que aderem a seus serviços e o tempo gasto por eles usando suas ferramentas. Esses dois fatores são considerados boa parte das vezes como indicativos da possibilidade de se obter receita de publicidade e de investidores.
Como se observa, a ideia de reduzir custos acaba sendo descartada, pois não está em jogo a cobrança dos usuários pelos serviços pelas mídias on-line. Porém, embora as inovações de ruptura no mundo web sigam a lógica da gratuidade, elas também alteram a experiência do usuário, no que se refere a comunicação e a relacionamento social on-line. O Twitter, por exemplo, é uma inovação de ruptura que surgiu das frases que as pessoas colocam no campo de "status" do MSN. Criado em 2006, o Twitter permite que o usuário publique apenas mensagens de 140 caracteres por vez. Divulgar o que se estava fazendo no MSN era uma peculiaridade da ferramenta, já que o foco se concentra em possibilitar aos usuários trocarem mensagens instantâneas. A ideia do Twitter pareceu a muitos, no início, um absurdo. Por que as pessoas iriam se interessar por algo tão limitado? Contudo, acabou sendo tão bem aceito, que redes sociais como o Facebook líder de mercado hoje estão explorando ferramentas parecidas.
Mas o mais relevante para nossa análise é que o fato de o Twitter ser mais limitado que os blogs, gerou como efeito "emergente" uma nova forma de se comunicar entre os usuários. A relevância foi intensificada. As trocas de informações sobre os conteúdos disponíveis na rede, também. A experiência social do usuário do Twitter foi alterada pela arquitetura da própria ferramenta on-line.
A grande sacada que a inovação de ruptura parece proporcionar ao ser aplicada ao campo das mídias sociais é que, ao que permite criar ferramentas mais limitadas, a emergência de novas maneiras de se comunicar e de interagir no mundo digital. Em outras palavras, força os usuários a inovar também na forma de se relacionar na web. Os "defeitos" e as "limitações" geradas pelas inovações de ruptura no mundo digital são, na verdade, suas virtudes.