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Fernando Martins

A nova onda do Brasil

A história recente do Brasil é feita de grandes ciclos, que ocorrem quando há consenso na sociedade de que mudanças precisam ser feitas. Na década de 80, o povo saiu às ruas, pediu Diretas Já e o país se redemocratizou. O próximo grande passo veio nos anos 90, com a estabilidade econômica. Foi isso que permitiu outro salto, dado no início deste século: a inclusão social. A segunda década dos anos 2000 está chegando ao fim da primeira metade com ameaças às três grandes conquistas anteriores. Mas também com a oportunidade de afastar esses riscos ao consolidar aquilo que pode ser o novo avanço brasileiro: o combate à corrupção – que também pode ser entendido como a luta para que o Estado sirva à população e não o contrário.

O país vive uma onda favorável de mudanças nesse campo. Já em 2011 houve passeatas contra corrupção, ainda tímidas. Em 2013, o movimento cresceu e essa era uma das principais pautas das jornadas de junho, que tomaram o país. Neste ano, novamente as ruas foram tomadas por pessoas que, além de pedirem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, exigiam o fim da impunidade de autoridades que cometerem desvios.

Há uma relação não tão evidente, mas não menos importante, entre corrupção e desempenho da economia

Nesse intervalo, as instituições funcionaram. O STF condenou os mensaleiros – os primeiros políticos do alto escalão a irem para a prisão. E a Operação Lava Jato levou para a cadeia políticos, grandes empreiteiros e, agora, até um influente banqueiro.

Além disso, pesquisa Datafolha divulgada no domingo passado (29) pelo jornal Folha de S.Paulo mostra que, pela primeira vez, os brasileiros consideram a corrupção o principal problema do país. Cerca de um terço da população (34%) avalia que esse é o maior desafio do Brasil. Em seguida vem saúde (16%), desemprego (10%), violência (8%), educação (8%) e economia (5%). Talvez os brasileiros tenham se dado conta de que os desvios de recursos públicos afetam as outras áreas. Com a corrupção, sobra menos dinheiro para investir na saúde, educação e segurança.

Há ainda uma relação não tão evidente, mas não menos importante, entre corrupção e desempenho da economia. No Brasil, os grandes esquemas de desvios de verbas públicas são montados pela aliança de políticos com empresas. As companhias privadas “eleitas” para ganhar as concorrências do Estado crescem e se tornam gigantes não porque são eficientes, mas por pagar propina. Assim, elas sufocam a concorrência. E o país não consegue aumentar a produtividade – condição para crescer de forma sustentada. Além disso, quando se descobre um esquema de corrupção, todo o setor econômico envolvido é afetado porque essas corporações são grande demais.

E, quando a economia fraqueja, a inclusão social paralisa ou retrocede. É o que ocorre hoje no país.

Os escândalos de desvio de dinheiro também corroem a crença de parte dos cidadãos na democracia. Em função disso, hoje há quem até defenda a volta dos militares. Além disso, grandes escândalos de desvios de recursos costumam provocar a paralisia de governos – o que impede a solução de problemas como a crise econômica.

A chave para evitar o risco de haver retrocessos nos avanços que o país conquistou no passado está, portanto, no enfrentamento à corrupção. É ele que pode resgatar a confiança da população na política e evitar a ineficiência do Estado. Resta saber se essa onda vai passar ou se arrastará o país junto com ela.

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