A tragédia dos deslizamentos de terra em Angra dos Reis não é um fato isolado, um mero acidente. Pelo contrário: ela tem um paralelo muito forte com todo o país. Do ponto de vista do meio ambiente, a virada de ano transformou Angra num microcosmo do Brasil. As fortíssimas chuvas que desabaram sobre o município fluminense deixaram evidentes problemas que se alastram pelos quatro cantos da nação: falta de planejamento do uso do solo, desrespeito às leis ambientais, ocupação desordenada da terra e um alto preço que a natureza acaba cobrando por tudo isso.
Diversos estudos mostram como Angra chegou a ser o que é hoje. Todos contam a mesma história. Até a década de 60, era uma pequena cidade. A instalação de um grande estaleiro na Ilha Grande começou a impulsionar a economia. Nos anos 70, a construção da usina nuclear e a abertura da Rodovia Rio-Santos, que cruza o município, atraíram milhares de pessoas.
A grande massa de trabalhadores estava interessada nas novas oportunidades de emprego. Mas a cidade não se preparou para recebê-los; a infraestrutura urbana não era suficiente para todos. A ocupação de morros no centro de Angra foi a opção de moradia que restou a grande parte dessas famílias. Outros forasteiros, muito mais endinheirados, viram nas belezas naturais da Costa Verde uma oportunidade de ouro para explorar o turismo. Ou simplesmente para ter uma aprazível casa de descanso nem sempre no local mais apropriado.
Nesse processo histórico, o poder público foi omisso ao permitir construções tanto de ricos como de pobres em áreas de risco ambiental, como as encostas de morros. E isso não foi culpa só de ex-governantes. A atual gestão estadual do Rio de Janeiro, por exemplo, emitiu um decreto em junho do ano passado liberando edificações em determinadas regiões da Ilha Grande onde antes, por razões ambientais, era proibido erguer casas.
Já a prefeitura de Angra decidiu proibir, só no último domingo, após a tragédia, a construção de novas moradias nas encostas da cidade até que haja um estudo geológico dizendo onde é seguro morar. Diante desse descaso com o meio ambiente, não é de surpreender que a natureza tenha dado sua resposta ao acinte a que vinha sendo submetida.
O mais trágico dos acontecimentos de Angra, porém, é que esse não é um alerta isolado. É uma história que tem se repetido com frequência em todo o Brasil. E parece que não temos aprendido a lição. Em 2008, foi o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, que viveu situação semelhante por causa da ocupação humana de locais inadequados do ponto de vista ambiental tal qual Angra e milhares de outras localidades do país.
E o que fazem nossas autoridades? Discutem a flexibilização das leis ambientais que poderiam evitar tragédias. Desse jeito, é melhor nos prepararmos para chorar novas vítimas da fúria da natureza.
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