As mobilizações sociais, quando justas, são como os grandes rios. Começam pequenas. Se não forem represadas, desviam dos obstáculos que encontram pela frente. E, ainda que lentamente, vão agregando mais e mais pessoas. Tornam-se então forças gigantescas, capazes de mudar a realidade.
O Amazonas é apenas um filete dágua nas encostas dos Andes peruanos, onde estão suas nascentes. Quem tiver o privilégio de um dia visitar esse local pode, num simples passo, cruzá-lo de uma margem à outra. Pouco a pouco, o frágil riacho vai desviando as montanhas em seu caminho e recebendo as águas de outros córregos igualmente franzinos.
Quase sete mil quilômetros depois e com a contribuição de milhares de afluentes, pequenos e grandes, o Amazonas deságua no Atlântico como o maior rio do planeta. É tão forte, poderoso e extenso que mais se parece o mar. Na beira de suas barrancas não se consegue avistar o outro lado.
As mobilizações sociais, quando justas, são como os grandes rios. Começam pequenas. Se não forem represadas, desviam dos obstáculos que encontram pela frente. E, ainda que lentamente, vão agregando mais e mais pessoas. Tornam-se então forças gigantescas, capazes de mudar a realidade.
Mas, caso não houvesse os primeiros a se mobilizar, nada aconteceria. Por isso é preciso elogiar aquela meia dúzia de gatos pingados que saem às ruas para pedir mudanças. Eles são como as gotas que escorrem dos nevados andinos para formar o Amazonas. Embora menosprezados por quem não percebe que os ventos da mudança estão soprando, essas pessoas quase solitárias encorajam os demais a vencer o comodismo diante dos males sociais.
Os escândalos dos Diários Secretos na Assembleia Legislativa, revelados por uma série de reportagens da Gazeta do Povo e da RPC TV, são um exemplo de como poucas vozes podem se transformar em milhares. Os primeiros protestos contra os desmandos no Legislativo estadual tiveram algumas dezenas de manifestantes. O ato de ontem, pedindo o fim da corrupção nas instituições políticas do Paraná, reuniu ao milhares de pessoas na Boca Maldita. E mais de 20 mil já assinaram o manifesto que pede transparência na Assembleia.
Ainda falta muito para que haja mais transparência no poder público. Mas o paranaense, tradicionalmente tímido, está perdendo a vergonha de tomar uma posição política.
A correnteza começou a correr. Se mais cidadãos vierem a se juntar a esse movimento, como os afluentes fazem com o Amazonas, ele não secará e pode transformar o estado. Não haverá dique que o contenha. Mas é preciso que os gatos pingados não sejam abandonados, apesar de todas as dificuldades que venham a aparecer.
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