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Fernando Martins

As máscaras, a lei do mais forte e o Tio Sam

De tempos em tempos, o anarquismo ressurge como proposta política. Reapareceu nos protestos de rua do país na forma de violência e vandalismo dos black blocs e mascarados – o que contribuiu para esvaziar as manifestações. Ainda assim, os anarquistas conquistam simpatizantes ao defender um mundo absolutamente livre, sem a "opressão" do Estado. Utopias sempre são sedutoras porque projetam no futuro a expectativa de algo melhor, ainda que não tenham fundamento na realidade. A sociedade anárquica, porém, existe. E está distante de ser um sonho realizado.

O mundo – com sua profusão de guerras – é a maior experiência anarquista possível. Não há um Estado transnacional ao qual todos os países tenham de se submeter. A ONU não é um governo soberano, que tem poder de tomar e impor decisões. Nada é aprovado nas Nações Unidas se um único Estado membro não concordar. Ou seja: regras e leis internacionais só valem nos países que as aceitam. Isso é muito diferente do que ocorre numa nação. Os integrantes do Estado são os cidadãos, que estão sujeitos a cumprir as decisões governamentais ainda que não concordem com elas.

A geopolítica demonstra, ao contrário do pensamento corriqueiro, que o anarquismo não é sinônimo de bagunça, mas sim de lei do mais forte. Essa é, por regra, a ordem mundial. Estados poderosos militar e economicamente têm mais condições de fazer valer suas vontades. Não raras vezes isso redunda em guerras – a violência extrema –, embora as nações também possam estar abertas à cooperação com os demais países.

Há, portanto, um elo nem sempre evidente entre o mascarado que sai às ruas e o presidente dos Estados Unidos que ordena o bombardeio ou a invasão de nações que considera hostis, por exemplo. O primeiro clama por algo na esfera nacional que levará àquilo que é praticado pelo segundo no plano internacional.

Uma sociedade sem governo, longe de ser um sonho utópico, será benéfica justamente aos mais fortes. O Estado moderno é tão somente um contrato social por meio do qual os cidadãos aceitam perder parte de sua liberdade em nome de segurança, ordem e justiça social. Em certa medida, foi por isso que multidões saíram às ruas brasileiras. Para mudar o Estado, não eliminá-lo. Não é coincidência que as passeatas perderam força justamente quando os mascarados entraram em ação. Essa, afinal, não é a pauta do anarquismo.

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