Tocante. Literalmente tocante. Assim foi a visita do papa Francisco ao país. Os brasileiros elevaram ao quadrado a máxima de São Tomé: não basta ver para crer; é preciso tocar, pegar, sentir. Isso ocorreu do primeiro dia quando o pontífice ficou preso no engarrafamento e foi cercado pela multidão que enfiava mãos e braços pelas janelas abertas do carro papal aos últimos instantes da viagem, em que autoridades e seus parentes se aglomeraram ao redor do avião que o levaria de volta a Roma. Mais do que bênçãos e palavras, todos também queriam sentir o contato físico de Francisco. No que foram retribuídos, dentro da medida do possível.
Talvez nenhum outro povo tenha tanta compulsão por tocar e ser tocado. Quando viajam ao exterior, turistas brasileiros costumam tomar ralho por mexer nos objetos expostos em museus ou nas mercadorias de lojas. Mas, a despeito de beirar a falta de educação quando se trata de coisas, a necessidade de sentir contato é também sinônimo da afetuosidade verde-amarela tão admirada lá fora: os três beijos para casar, o cafuné, o colo para acalmar, o beijo na ferida para sarar.
A mania de tocar e sentir é uma forte expressão da cordialidade nacional descrita pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda. O brasileiro é cordial porque age antes com o coração que com a cabeça. Para o bem e para o mal.
A cordialidade nunca permitiu que o Brasil entrasse definitivamente na modernidade racional inaugurada pelo Iluminismo. Porém, o império da razão que pretendia redimir a humanidade não entregou a felicidade prometida às nações que seguiram à risca a cartilha racionalista. Faltou algo. Talvez seja justamente o que sobra nestes trópicos: um toque de sentimento, de maior proximidade humana. Afinal, se a cabeça exige abstrações etéreas e imateriais, o peito bate forte mesmo é com o contato pessoal.
De certo modo, foi isso que o papa defendeu na entrevista ao Fantástico: uma Igreja mais próxima dos fiéis, que não se comunique apenas por documentos. Menos teoria; mais contato. A imagem que Francisco usou para exemplificar aquilo que prega foi a de uma mãe que traz a cria para debaixo do braço. Uma mãe que abraça os filhos. Que rompe a distância e simplesmente os toca. Quem sabe não devam agir assim todas as instituições públicas, envoltas hoje em uma crise de representatividade.
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