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Desde que o mundo voltou os olhos ao Brasil devido ao crescimento econômico, o país começa a despertar a admiração de estrangeiros por um traço de nosso caráter que muitas vezes é visto por aqui como defeito: a prevalência da emoção sobre a razão em nosso comportamento. As duas formas de conviver – a racional e a emotiva – estão em permanente choque no cotidiano. Dessa colisão de concepções resultará o modelo de sociedade que escolheremos para o futuro.

O historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) definiu o brasileiro como um homem cordial – no sentido de que age com o coração (cordi, em latim) e não com a razão. As relações familiares e de amizade no país, segundo ele, são mais importantes do que a lei – a norma racionalmente instituída para garantir uma convivência saudável. Ou como diz o ditado: quem tem amigos não morre pagão.

No mundo político e no trato da coisa pública, as relações familiares e de amizade resultam em práticas como o nepotismo, favorecimento de aliados, concessão de privilégios aos amigos – atitudes que tanto têm sido combatidas e criticadas.

Mas há quem veja o outro lado da cordialidade nacional. Em entrevista à Gazeta do Povo da segunda-feira (cuja íntegra está disponível em http://bit.ly/maffesoli), o sociólogo francês Michel Maffesoli afirma que o Brasil pode ser um modelo ao mundo, pois a emoção nas relações sociais é algo bom. Segundo ele, essa característica do brasileiro indica que estamos preocupados com o bem-viver em comunidade – algo que a racionalidade moderna e as leis por ela instituídas não conseguiram proporcionar em plenitude ao homem. A despeito das normas legais, o mundo ainda é conflituoso.

É intrigante que o elogio à emotividade brasileira venha de um intelectual da pátria do Iluminismo – a corrente filosófica que revolucionou a sociedade ao colocar a razão no centro de tudo. A França que difundiu a República (a res publica, o respeito ao que é público) sente o mal-estar de ter criado uma sociedade de direitos e deveres que ceifou do espaço comunitário o sentimento e as relações pessoais.

Já ao Brasil cordial falta um tanto do republicanismo francês. A índole do brasileiro guarda enfim a semente do bem e do mal. Equilibrar cabeça e coração é chave não somente para uma existência pessoal. Mas também para nos tornarmos uma nação desenvolvida.

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