O exercício da futurologia sempre é arriscado. Mas, diante da real possibilidade de a presidente Dilma Rousseff (PT) ser obrigada a deixar o comando do país por meio do impeachment ou da cassação pela Justiça Eleitoral, é preciso refletir sobre o futuro da nação. Isso porque o pós-Dilma, se ocorrer, terá muitos caminhos possíveis. Vários deles podem levar o Brasil a um beco sem saída. Caberá à população manter a vigilância para evitar o pior.
Em muitos cenários de uma eventual saída da petista da Presidência, é possível antever que a crise se prolongará. Ou, por outro lado, que a Operação Lava Jato sofrerá forte pressão para ser enfraquecida, num acordão político feito em nome da volta da estabilidade.
(Desde já esclareço: isso é apenas uma análise para pensar sobre o que pode estar à nossa espera; não uma defesa da manutenção do mandato da presidente ou de sua destituição.)
Num primeiro cenário, Dilma sofre o impeachment. Quem assume a Presidência é Michel Temer, o vice. O problema é que Temer também é acusado de fazer parte do esquema descoberto pela Lava Jato. Ele nega as suspeitas. Mas pode se tornar um presidente investigado – alvo fácil para a oposição.
Em muitos cenários de uma eventual saída de Dilma, é possível antever que a crise se prolongará
Se Temer for inocentado, a situação muda. Mas é bom lembrar que seu partido, o PMDB (do qual ele é presidente nacional), foi um dos principais beneficiários dos desvios na Petrobras. E o atual vice precisará do apoio desse mesmo partido para governar. Não é improvável que sofra pressão para enterrar a Lava Jato. Ele vai resistir?
O PSDB, que já negocia a participação em um eventual governo Temer, também tem seu presidente nacional, o senador Aécio Neves (MG), acusado de fazer parte do esquema. O mineiro também nega ter se envolvido em irregularidades. Mas a pergunta que não quer calar é: os tucanos manterão seu apoio incondicional à operação num pós-Dilma se o mineiro for investigado?
O segundo cenário pode ocorrer se a chapa Dilma-Temer for cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na ação movida pelo PSDB. Nessas condições, tanto a petista quanto o peemedebista deixam o governo. E haverá uma nova eleição presidencial. E Temer, se até lá virar presidente após um eventual impeachment, pode ter de deixar o Planalto logo depois. Haveria nova instabilidade política.
Se a cassação pelo TSE ocorrer ainda neste ano, a eleição será direta. Ou seja, todos os brasileiros escolhem o novo comandante do país.
A pesquisa presidencial mais recente, do Instituto Datafolha, divulgada no fim de semana, mostra uma disputa embolada num dos cenários mais prováveis: Marina Silva (Rede) tem 21% das intenções de voto, seguida de Aécio (com 19%) e Lula (17%).
Lula é investigado pela Lava Jato. E Aécio, suspeito. A eleição do petista prolongaria a crise. E o tucano, se vencesse, também poderia se tornar um presidente fraco, investigado.
O candidato do PSDB poderá ser outro. Mas, se esse concorrente tucano vier a vencer a disputa, manterá o apoio a uma investigação que pode prejudicar a carreira política do atual presidente da sigla?
Caso o TSE decida por uma eventual cassação da chapa Dilma-Temer só no ano que vem, a eleição seria indireta, pois mais da metade do atual mandato teria sido cumprida. Portanto, deputados e senadores iriam escolher o novo presidente. Os mesmos que elegeram Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL) – dois investigados pela Lava Jato – para comandar a Câmara e o Senado, respectivamente. Que presidente sairá daí?