Um amigo me enviou alguns cartuns do Quino em que o autor desfia seu desapontamento e indignação com os tempos modernos e seus novos equipamentos. Tempos modernos! Isso me lembrou Charles Chaplin e o seu clássico filme (1936). Nada tão antigo, nada tão contemporâneo. Quantos remakes já fizeram sobre esse filme e assunto? E antes dele? Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Mark Twain e dezenas de outros, até chegarmos à antiga Grécia, já abordaram o tema. Cada um, preocupado com sua geração, pois cada época tem seu modus hodierno, sua maneira do hoje, do atual, do recente. Depois, com o tempo, o moderno de agora ficará velho e passará a disputar espaço com o contemporâneo que será o novo jeito de fazer as coisas amanhã.
Querer comparar as novas gerações com as antigas sempre foi uma preocupação natural. O correr da vida é assim. Os mais velhos de hoje, vivendo em paralelo com os mais jovens, ficam reclamando do estado das coisas e esquecem que foram eles que deram início a todos os novos inventos e comportamentos. Computadores, internet e sexo livre nasceram nas décadas de 60 e 70. Beatnicks e baby-boomers (décadas de 40 e 50) espelham os modos de vida atuais e seus diversos tipos de comportamento, só que agora, como tudo na sociedade, segmentados. Drummond também brincou de forma bem-humorada, ao comparar sua geração com a de "antigamente", título do seu poema. Até o Grilo Falante, no filme Pinocchio (1940), diz, ao ver a fada transformar o boneco de madeira em um menino de verdade: "Puxa! O que não inventam hoje em dia!"
Tenho um depoimento pessoal a repartir. Quando, aos sete anos (1954), ganhei no Natal um disco voador de "matéria plástica" produto que recentemente entrava no mercado ao brincar com ele, um motorista de caminhão que estava parado num posto de gasolina em frente à minha casa me chamou e disse: "Ó, menino, deixa-me ver isso aí". Ao examinar o novo material (plástico), soltou essa: "Nossa! O que este pessoal não inventa pra ganhar dinheiro". Entre um brinquedo de plástico da década de 50 e um iPad não há diferença para a cabeça de alguns.
Não adianta reclamar das modernidades e dos seus equipamentos. Eles são inevitáveis. É bom lembrar que nossos pais e avós reclamavam do nosso comportamento na época. Podemos, sim, reclamar da falta de educação, de ética, dos maus costumes dos jovens, das suas bebedeiras e da sexualidade precoce. Sem esquecer, jamais, de que se eles são assim, fomos nós que os criamos.
Cultura é o repassar o que uma geração aprende, durante o seu viver, para a seguinte. A vida continua e Elis Regina mais atual do que nunca ainda repercute na nossa memória cantando: "... minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais..." Tudo meio melancólico, mas é assim mesmo.
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