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A discussão sobre o papel dos partidos entrou na campanha eleitoral de forma enviesada, em meio a indiretas entre Dilma Rousseff e Marina Silva. Mas é um debate do qual a sociedade não vai escapar. Já faz tempo que as siglas vêm perdendo espaço como instâncias de representação. Nas manifestações de junho de 2013, dois slogans entoados nas ruas deixaram nítida essa tendência: "Não me representa" e "Sem partido". Mas é possível um regime democrático sem legendas políticas?

Marina parece ter encarnado a ideia de que se pode governar sem partidos. Recentemente disse que, se eleita, convidará os melhores nomes para governar, procurando transcender a lógica partidária. Dilma retrucou: governar sem legendas cheira a autoritarismo. A presidente tem certa razão. Eliminar os partidos é marca das ditaduras. Porém, a questão é que as siglas passam por um processo de desconexão com os cidadãos, o que exige pensar em novas formas de representação ou participação.

O cientista político francês Bernard Manin ajuda a jogar luz no debate. Ele divide os regimes democráticos modernos em três estágios históricos: democracia de elites, de partidos e de público. A democracia de elites, que existiu até o século 19, prescindia dos partidos. Apenas a aristocracia participava de eleições; os "notáveis" da sociedade eram eleitos pelo nome. Isso mudou com o sufrágio universal. Era preciso organizar os diferentes grupos sociais para a corrida eleitoral. As siglas surgiram como resposta a essa demanda. Tinham forte vínculo com a classe que representavam. Essa foi a democracia de partidos.

No entanto, em meados do século 20 os meios de comunicação de massa tiraram o monopólio dos partidos na conscientização política. A população passou a buscar informações em outros canais e não mais nas siglas, como ocorria até então. E os políticos tiveram de incorporar o perfil de comunicadores para, usando a mídia, se dirigir ao grande público e vencer eleições – daí o termo "democracia de público". As legendas não deixaram de existir e ainda são essenciais para eleger candidatos. Mas perderem relevância, e a política ficou mais personalista.

Parece, porém, que até mesmo o personalismo político dá sinais de fraqueza. A internet criou uma nova realidade em que o cidadão não é apenas receptor de informação, mas produtor. Seu poder se ampliou para opinar e decidir. Talvez as democracias estejam ingressando em uma quarta etapa. Um possível efeito disso é o vácuo de representação – razão de haver tanta discussão sobre a necessidade de ampliar os mecanismos e canais de consulta e participação popular nas decisões políticas. O problema é como fazer isso sem privilegiar grupos e não excluir ninguém. Mas parece inevitável que, nas democracias, os partidos e seus filiados sejam apenas mais um dentre outros tantos atores políticos.

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