Parte das crianças é acometida das chamadas dores do crescimento. Elas costumam cessar na adolescência não sem antes provocar profundo incômodo. O Brasil parece padecer de mal semelhante. Está se desenvolvendo, o que é bom. Mas o recente acesso de expressiva parcela da população ao mercado de consumo tem ocorrido sem a devida contrapartida de infraestrutura física e humana. O resultado fica cada vez mais evidente: o país está "engarrafado".
O fim de ano talvez seja o período em que as dores do crescimento nacional sejam mais latejantes embora a população esteja anestesiada devido às festividades do Natal e do réveillon. Nessa época, as estradas sempre estiveram congestionadas. As rodoviárias e os aeroportos, lotados. Os locais de lazer, concorridos. E muitos serviços públicos, mais precários.
Mas há sinais de um acirramento dessa condição. Rodovias que antes só congestionavam na véspera e no início dos feriadões desta vez tiveram engarrafamentos na semana entre as duas festas. Faltou ar-condicionado e luz nos aeroportos do Rio. A Rodoferroviária de Curitiba estava caótica. No litoral do Paraná, celulares ficaram indisponíveis durante dias antes, havia dificuldade de completar ligações poucas horas antes e depois da meia-noite do réveillon.
As empresas de telefonia, por sinal, demonstraram incapacidade de atender à demanda durante todo o ano de 2012. Faltou investimento e, obviamente, controle por parte do governo. E os exemplos se sucedem cotidianamente. Grandes cidades não se anteciparam ao crescimento vertiginoso da venda de carros. O resultado é um trânsito cada vez mais engarrafado.
E o que não são as filas nos postos de saúde públicos senão um congestionamento de pacientes? A falta de médicos evidencia a outra face desse imenso engarrafamento chamado Brasil. Desta vez, não de infraestrutura física, mas humana. A negligência de investimentos em educação começa a cobrar a conta. Falta gente qualificada em diversos setores. Já se fala em apagão de mão de obra.
Apagão, aliás, tem sido uma palavra cada vez mais comum no vocabulário. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff pediu aos brasileiros que riam quando lhes contarem que blecautes são causados por raios. Segundo ela, eles ocorrem por erros humanos. Especialistas reagiram. Disseram haver, na verdade, falhas no sistema elétrico.
Seja uma ou outra a explicação, volta-se à mesma questão: não há pessoas devidamente qualificadas ou faltou investimento em infraestrutura. Buscando-se ainda uma causa anterior, pode-se dizer que não houve planejamento o grande desafio nacional. Esse é um problema para o qual o país ainda aguarda a solução como se estivesse em uma longa fila de espera.