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Fernando Martins

Espelho no céu

 | Paulo Pinto/Fotos Públicas
(Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas)

“Agora sei por que estou aqui. Não para olhar a Lua mais de perto. Mas para ver o nosso lar, a Terra.”

(Alfred Worden, astronauta norte-americano, um dos 24 homens que pisaram na Lua.)

A Lua, no fundo, não passa de uma imensa esfera rochosa que reflete a luz solar. Mas, convenhamos, ela sempre foi muito mais que isso.

Esse disco prateado fascina o homem desde sempre. Os povos primitivos a veneravam como deusa da fertilidade. Usaram-na para contar a passagem do tempo – as semanas nada mais medem do que as fases lunares. Poetas de todas as eras se inspiraram ao luar. E incontáveis romances brotaram sob seus raios.

Tamanha admiração não poderia escapar da modernidade. Depois de milênios apenas observando-a distante no céu, foi só há 47 anos que vencemos essa paixão platônica para finalmente tocá-la. Com o pé esquerdo... do astronauta Neil Armstrong.

Se encontramos beleza a 300 mil quilômetros, com certeza ela há de existir por aqui

Mas, mesmo desvendada pelos cientistas (em parte, veremos adiante), ela continua a encantar. Talvez porque a majestosa bola do céu noturno seja um espelho de nós. Um baita espelho. Assim como a Lua, o ser humano vive ciclos e fases. E sempre muda, embora sempre seja o mesmo.

O mistério da mudança lunar já está resolvido. Não o do homem: como podemos dizer que somos a mesma pessoa que erámos quando tínhamos poucos meses de vida? Muita tinta já se gastou na filosofia para dar uma resposta à questão. Não há ainda solução definitiva.

Como não há solução definitiva para aquele que talvez seja hoje o maior mistério da Lua para os cientistas. Que na verdade também não é propriamente um mistério lunar. Mas humano. A ciência colocou o homem na Lua. Descobriu do que ela é feita. Mapeou cada cratera e montanha de sua superfície. Mas é incapaz até hoje de explicar por que nós temos a impressão de que ela é maior quando aparece no horizonte do que quando está no alto do céu. Atenção, descrentes! Ela realmente não é maior perto do horizonte. Faça o teste: coloque um objeto qualquer ao lado da Lua nos dois momentos e compare o tamanho dele com o dela; não haverá diferença alguma. É tudo, enfim, uma ilusão de nossas cabecinhas.

Mas, convenhamos, é uma bela ilusão. Se não fosse esse efeito misterioso, aliás, um fenômeno astronômico como a superlua dos próximos dias 13 e 14 – a maior dos últimos 68 anos – talvez não gerasse tanta expectativa. Primeiro, os pingos nos “is”: uma superlua acontece sempre na fase cheia quando nosso satélite natural está a pelo menos 10% da distância mínima que ela pode chegar em relação à Terra. Ou seja, é quando a Lua está muito perto de nós. No evento dos próximos dias, ela vai estar especialmente mais próxima (a “apenas” 356,5 mil quilômetros), 14% maior para nossos olhos e até 30% mais brilhante. Superlua tão super como essa só ocorreu em janeiro de 1948. E só haverá algo semelhante em janeiro de 2034.

É muito tempo para esperar. Temos de aproveitar o espetáculo... se o tempo ajudar, é lógico. Pelo menos o calendário fez sua parte. O feriadão vai dar uma mãozinha ao nos livrar das obrigações do trabalho e ninguém vai poder reclamar que estava ocupado.

É uma aposta certa: muita gente vai parar para admirar a Lua nascendo majestosa no horizonte. E talvez possamos nos lembrar de vê-la como se fosse o nosso espelho. Se encontramos beleza a 300 mil quilômetros, com certeza ela há de existir por aqui.

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