A morte de Fidel Castro atraiu as atenções do mundo para Cuba. Tem sido assim há quase seis décadas. Até de forma surpreendente. O país é pequeno. Seria desimportante no cenário internacional. Não fosse a sedução que exerceu e ainda exerce em círculos intelectuais que usam os indicadores sociais alcançados por El Comandante para vendar os olhos diante do fato evidente de que ele era um tirano – como se o avanço de uma nação necessitasse de mão de ferro. Não necessita. Simples assim.
E nem é preciso ir muito longe procurando exemplos na Europa e outros confins. Um vizinho de Cuba, que passou por uma revolução de esquerda 11 anos antes, preferiu tomar o rumo da liberdade. E hoje seus cidadãos desfrutam de um país livre e com indicadores sociais equivalentes aos de Cuba – veja o quadro abaixo. Mas pouco se fala desta nação: a Costa Rica. Talvez porque exista um atávico magnetismo humano por se submeter a líderes que digam o que os outros têm de fazer (não pensar pode ser mais cômodo). Talvez porque os grandes dramas (ou dramalhões) sejam mais atrativos que a vida corriqueira.
O líder do levante, Pepe Figueres, negociou politicamente uma saída sem mais mortes
“Sem paredón, essa revolução não figura no nosso panteão histórico-jornalístico onde heróis trágicos, mártires e tiranos sanguinários deixaram marcas mais profundas”, escreveu num artigo de 2010 o jornalista e ex-deputado Alfredo Sirkis – um ex-participante da resistência armada à ditadura brasileira que hoje é um entusiasmado divulgador da opção costarriquenha pela democracia.
A revolução da Costa Rica começou em 1948, após o Congresso situacionista anular a eleição presidencial cujo vencedor havia sido um oposicionista de esquerda, Otílio Ulate. Como toda revolução, essa também teve derramamento de sangue – e sempre será muito questionável se esse é o melhor caminho. Mas há de se considerar as circunstâncias históricas: à época, isso era relativamente comum.
O importante, porém, foi a opção que os revolucionários tomaram 40 dias depois, quando venceram as forças do governo. O líder do levante, Pepe Figueres, negociou politicamente uma saída sem mais mortes. Não perseguiu os derrotados, como costuma ocorrer em revoluções. Isso provocou insatisfação no Exército. Para evitar uma quartelada que começava a ser ensaiada, Figueres dissolveu as Forças Armadas – o país até hoje não conta com tropas militares.
Na interinidade, Figueres adotou medidas econômicas tipicamente de esquerda: aumento de impostos e nacionalização de empresas. Também investiu pesado na saúde e educação. Mas o período de transição acabou em 1949, quando Figueres entregou o poder a Ulate, o presidente legítimo. Desde então, a Costa Rica realiza eleições a cada quatro anos. É livre inclusive para entregar o comando da nação à direita – que, eventualmente, poderá desfazer políticas de esquerda. Isso é democracia.