O bloco Garibaldis e Sacis merece um estudo an­­tropológico. Tirou o curi­­tibano de casa. Colocou-o na rua para celebrar o carnaval – logo na capital que se orgulha de ter a pior folia do país. Vem mostrando que a cidade e seu povo não são mais os mesmos. Que o cidadão, em busca do encontro com o outro, está deixando o casulo e ocupando cada vez mais intensamente novos espaços públicos – o que exige das autoridades uma nova abordagem, que hoje parece distante da realidade.

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A folia do Largo da Ordem não é um movimento isolado. As tardes de sábado na Praça da Espanha ou no Parcão do Museu do Olho estão aí para demonstrar que o fenômeno veio para ficar. O lazer de Curitiba não está mais confinado aos parques tradicionais, aos shoppings e às casas noturnas. Ele já emerge independentemente da oferta da prefeitura e do mercado, em lugares que simplesmente caem no gosto popular.

O despertar desse novo curitibano, menos fechado, era inevitável. A capital cresceu rápido e abrigou forasteiros de todos os cantos, com outras visões de mundo. A emergência da classe C igualmente incorporou à vida cultural da cidade um contingente de pessoas com anseios e expectativas diversas.

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Ao poder público cabe compreender o novo curitibano, menos tímido e caseiro. Entender que ele é mais aberto ao encontro amistoso, mas também mais sujeito ao conflito típico das relações humanas.

Cabe ainda aos governos se antecipar, reduzindo o risco de atritos. Isso pode ser feito pela oferta de novos espaços e atividades de lazer, desconcentrando os atuais. Por meio de campanhas educativas para que a população se divirta com respeito aos bens coletivos e ao direito de a vizinhança ter sossego. E também pela presença permanente das autoridades para conter, com inteligência, os abusos que inevitavelmente vão ocorrer.

Infelizmente, parece que o poder público ainda não se deu conta das transformações pelas quais a cidade passa. A "operação de guerra" deflagrada pela PM no Largo da Ordem, no último domingo, apenas tornou evidente o despreparo para lidar com o povo na praça. Arruaceiros alcoolizados não são novidade em aglomerações festivas. A polícia tinha de dispersá-los. Porém, sem transformar uma ocorrência pontual em um conflito generalizado.

O efeito adverso de uma ação como a de domingo é afastar não só os baderneiros das ruas. Esses vão voltar. Mas não as famílias que, inseguras, se isolam em "ilhas" particulares. Abandonados pela comunidade, os espaços públicos de convivência correm o risco de entrar em decadência e de ser ocupados pela marginalidade. O remédio, em dose excessiva, vira então veneno.

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