O mundo não anda muito amistoso para quem preza a discrição. Nada contra os espalhafatosos. Mas existe uma pressão para aparecer, que se manifesta em pequenas banalidades. Dos pés à cabeça, literalmente.

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Comprar um tênis, por exemplo, pode ser uma tormenta. Os modelos multicolores, berrantes e chamativos estão se proliferando na razão inversa dos exemplares que primam pela simplicidade. Alguns até parecem sóbrios à primeira vista. Mas é só chegar mais perto e lá está: um detalhe verde-fosforescente ou rosa-choque põe tudo a perder.

E essa tendência não é uma característica apenas do Brasil. Na última Copa do Mundo, o jogador que usava chuteiras pretas – as mais comuns até algumas décadas atrás – virou notícia justamente por ser uma exceção num campeonato em que ninguém mais conseguiu atrair a atenção pelos calçados. Por mais exagerados que fossem. A necessidade de aparecer a qualquer custo parece produzir uma espiral da exibição. O que era chamativo em pouco tempo vira comum e corriqueiro. E, para ser notado, é preciso ter algo mais inusitado ainda. Por vezes, é algo de bom gosto. Muitas vezes, não.

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Os pés, porém, são apenas a ponta do problema dos discretos. Fabricantes de tênis ofertam o que os consumidores querem. A questão, portanto, está na cabeça, na mentalidade de muitas pessoas: elas desejam aparecer, se exibir, se destacar de qualquer maneira. O mercado então atende à demanda. Mas por vezes se esquece dos discretos – que, por discrição, não são tão eficientes em fazer suas vontades serem percebidas.

O que isso tudo indica é que há um imperativo para se mostrar. Uma espécie de ditadura da exibição. E as redes sociais, a despeito de todos os seus benefícios, são os principais veículos em que isso se expressa. Não tem Facebook? Você é um alienígena. Não posta suas fotos no Instagram? Está fora de moda.

O curioso é que esse comportamento "exibicionista" tem migrado da esfera pessoal para a institucional. Assim como as pessoas, várias instâncias governamentais também vêm apostando, sobretudo nas redes sociais, numa estratégia de comunicação para aparecerem mais e serem mais "curtidas". Em princípio, não há nada de mais em buscar um público mais amplo. Mas o principal meio usado – o humor, as piadinhas – nem sempre cabe para instituições que deveriam zelar por sua imagem e que, principalmente, costumam não cumprir suas funções mais elementares. Assim, há um descolamento entre as gracinhas que os governos e governantes postam em seus perfis nas redes sociais e a realidade das ruas. Mais trabalho e menos exibição não faria mal a ninguém. Esse é o tipo de discrição que seria notada.

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