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fernando martins

Nó na cabeça. Ainda bem

Você pensa o que acha que pensa? A instigante pergunta é o título de um pequeno livro, editado no Brasil pela Zahar, capaz de dar um nó na cabeça. Os autores – os britânicos Julian Baggini e Jeremy Stangroom – conceberam uma série de testes para mensurar a coerência ou a inconsistência nos argumentos que usamos no dia a dia nos campos da ética, da política, do comportamento.

De início, chega a ser irritante descobrir que, em alguns assuntos, você é um mar de contradições. Mas, passado o susto, é saudável colocar em dúvida aquilo que era dado como certo.

Em tempos nos quais há uma radicalização do discurso ideológico e moral, é bom saber que nem tudo é preto no branco, oito ou oitenta. Isso ajuda a ser um pouco mais aberto às ideias das outras pessoas.

O questionário abaixo é um pequeno resumo adaptado de um dos testes do livro. Para cada afirmativa, marque se você concorda ou discorda. Depois, verifique a coerência lógica de suas opiniões.

É saudável colocar em dúvida aquilo que era dado como certo

1. Não existem padrões morais objetivos; a moral é apenas a expressão dos valores de cada sociedade e cultura.

2. Desde que não prejudiquem os outros, as pessoas devem ser livres para fazer o que bem entenderem.

3. O direito à vida é tão fundamental que o governo não deveria poupar investimentos na saúde. Quando o assunto é salvar vidas, questões financeiras não deveriam ser levadas em conta.

4. A posse de drogas para uso pessoal deveria ser descriminalizada.

5. A homossexualidade é errada porque é antinatural.

6. Os governos devem investir em saneamento básico e no sistema público de saúde para o bem da sociedade.

7. Os genocídios – tal como o Holocausto praticado pelo nazismo – provam a capacidade humana de praticar o mal.

8. Apesar da crise, o governo brasileiro deveria aumentar os repasses financeiros para ajuda humanitária a países pobres – mesmo que isso implique em reduzir investimentos em infraestrutura em nosso país.

Agora, vamos a algumas considerações:

Há uma tensão lógica em concordar com as questões 1 e 7 ao mesmo tempo. Se a moral é relativa a cada cultura, o genocídio poderia ser aceitável em determinadas sociedades.

Outra contradição existe em concordar com a questão 2 e discordar da 4. Isso porque, se o usuário de drogas não prejudica ninguém, ele deveria ser livre para fazer o que bem entendesse. Se prejudicar, aí, sim, haveria leis para puni-lo pelo mal causado aos outros.

Também há incoerência em concordar com a afirmativa 3 e discordar da 8. Se considerarmos que o direito à vida é tão fundamental a ponto de não importar questões financeiras, a ajuda humanitária a nações pobres seria justificável – já que ela normalmente se destina a salvar vidas. E, sob esse ponto de vista, não importa se a vida é de um brasileiro ou de um estrangeiro.

Finalmente, a concordância simultânea com as questões 5 e 6 também guarda grande inconsistência lógica. Reprovar a homossexualidade sob o argumento de que ela é antinatural implicaria discordar da necessidade de investimentos em saneamento e saúde pública – que buscam interromper, de forma artificial, o curso natural de doença e morte. Ou seja, o fato de ser antinatural não é argumento para desqualificar algo.

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