Tem coisas que sempre voltam. O cometa Halley – bem, esse é de 76 em 76 anos e para a maioria é novidade quando aparece. O réveillon. A Copa do Mundo. A Olimpíada. E também as reclamações do suposto desempenho ruim do país no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos. Pra entrar no clima, também decidi me repetir. Na verdade, revisitar um texto em que abordei esse mesmo assunto há exatos quatro anos. E pelo menos há algo de novo sob o sol. Continuamos cobrando de forma enfática os esportistas brasileiros. Muitas vezes, de modo injusto. Mas os políticos entraram na dança.
Há quatro anos, ainda vivíamos os ares ufanistas da propaganda do Brasil que dava certo. Havíamos ultrapassado a Grã-Bretanha como a 6.ª maior economia do planeta. Íamos ser sede da Copa e da Olimpíada. Atraímos a atenção do mundo. Tudo isso embalava o sonho de também sermos uma potência olímpica. Daí a decepção com a posição mediana do país no quadro de medalhas dos Jogos de Londres – nesta mesma época da competição, estávamos na 23.ª posição e acabaríamos por terminar em 22.º.
Agora, na Rio 2016, o desempenho brasileiro é melhor do que em 2012. Durante a maior parte desta terça-feira (16), rondávamos o 16.º lugar e à noite passamos para 15.° – o que não atenuou as críticas sobre fracassos e decepções. Até mesmo porque os Jogos são aqui e o Comitê Olímpico Brasileiro , como costuma ocorrer aos políticos em tempos de campanha eleitoral, tratou de “prometer” que o país estaria entre os dez primeiros colocados.
OK, a Olimpíada ainda não terminou e ainda podemos chegar lá. Mas, mesmo que isso não ocorra, o desempenho de nossos atletas nos coloca em uma posição de muito mais destaque no cenário internacional do que a da maioria das outras áreas que realmente importam para o dia a dia – e que dependem basicamente das ações de nossos políticos e autoridades.
Tirando a demografia, a geografia e os recursos naturais, o país ocupa uma posição bem atrás da colocação olímpica nos indicadores socioeconômicos e políticos (veja quadro). E, em quatro anos, ainda conseguimos a façanha de piorar no ranking de países em dez desses índices , com uma melhora em apenas quatro.
Melhorar esses indicadores continua sendo nossa outra Olimpíada. De todos os dias. Que nem sempre atrai as atenções. Mas pelo menos há uma novidade em relação a 2012. O ufanismo foi varrido pelos ventos da realidade e os políticos passaram a ser cobrados de modo muito mais efetivo para cumprirem a sua parte. Se conseguirem aproximar– apenas aproximar– a distância que separa os rankings de nossos índices socieconômicos da posição que nossos atletas conquistaram na Olimpíada, já seria motivo de medalha.