A arquitetura materializa as expectativas e objetivos de cada época. Não apenas nas variações e sutilezas de estilo. Mas principalmente na opção do que se pretende tornar grandioso. As edificações monumentais que cada civilização ergueu indicam o que ela valorizava. Mostram qual era o projeto daquele momento histórico. Olhar para os grandes prédios que são construídos na atualidade, portanto, ajuda a compreender o que a humanidade quer para si hoje e também a refletir se é isso mesmo que se deseja.
Na Antiguidade, a religião foi o centro da vida. Templos dedicados aos mais variados deuses, hoje em ruínas, são a sua expressão arquitetônica. As pirâmides egípcias as mais colossais construções do período não são templos, mas também indicam a dedicação espiritual daquele povo. São tumbas de uma nação que acreditava fortemente na vida pós-morte.
Gregos e romanos antigos também legaram à posteridade seus templos. Mas suas sociedades eram mais complexas. Eles deixaram ainda teatros, termas, monumentos a conquistas bélicas, arenas de gladiadores indicando outras preocupações.
Na Idade Média, a religião recuperou sua centralidade. E as catedrais góticas ou românicas são a materialidade disso. Estão no centro das cidades; a elas todos acorriam. Os castelos medievais, embora imponentes, eram na verdade fortalezas frias e despojadas; não se igualam em refinamento às catedrais. Ainda assim, revelam a importância que se dava à nobreza e à guerra na época.
Foi só mais recentemente que reis e nobres começaram a construir palácios verdadeiramente suntuosos para seu deleite exclusivo marca arquitetônica do absolutismo. As revoluções democráticas destronaram os monarcas e colocaram o povo no poder. Isso se refletiu na construção das casas presidenciais e nos parlamentos símbolos da democracia representativa. Em paralelo, a ciência e as artes se desenvolviam. E a modernidade erguia elegantes universidades, museus e teatros os templos do conhecimento e da cultura.
Os tempos contemporâneos marcados pela descrença na política, por um certo desdém da erudição, pela disseminação da cultura pop e pelo consumismo parecem ter encontrado nos shoppings sua nova catedral. Imponentes e luxuosos, eles se proliferam pelas cidades grandes e médias. Reúnem em seus corredores climatizados multidões em busca de entretenimento e de compras. Será esse o grande projeto do mundo atual: consumir e se divertir?
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